Ela veste peças da Zara misturadas com bolsas Louis Vuitton
e sapatos Manolo Blahnik. Num ímpeto de
ousadia, talvez, a vejamos num casaco Prada, embora diga que é apaixonada por upcoming
labels como Marques’Almeida para elevar o nível de coolness. Ela faz questão de tomar café proveniente do comércio
justo, todas as manhãs antes de ir trabalhar para uma popular financeira
anunciada na TV. Ela é fã de bagas goji que petisca à laia de snack, enquanto blogga no mínimo de 30
minutos por dia. Fanática dos sumos verdes e programas detox, considera a carne
vermelha e as gorduras trans a
explicação para o aumento da violência urbana . Quando acabou o curso em gestão
com alta média, os pais pagaram-lhe um shot intelectual de história da arte que
foi tão-só o pretexto para ir passar 6 meses a Nova Iorque, onde se inspirou em
histórias de vida sobejamente vistas anteriormente n’O Sexo e a Cidade e que
agora quer a todo o custo reproduzir na cidade onde vive, já que não teve a
sorte de ficar nas suas cidades de sonho NY/ LA/L.
Depois, de passar em revista os seus blogs favoritos e de
alimentar o seu próprio blog, passa cerca de 60 minutos do seu horário laboral
a pensar em como as suas capacidades estão subaproveitadas naquele emprego e na
raiva que sente em ter que cumprir ordens de miúdos acabados de sair das faculdades privadas e
pertencentes ao clube dos “Jotas” dos partidos empregadores. Em seguida, o seu
pensamento foca-se no que irá almoçar, enquanto explora destinos de viagem para
as próximas férias, com o firme objetivo de passar um mês a tentar encontrar-se
a ela própria, certamente inspirada em livros de autoajuda e em best sellers como “Comer, Orar e
Amar”.
Apesar de não gostar de rótulos, não desdenha a cultura
Yuppie dos anos 80, segue os mesmos ideais de sucesso, status e poder, com a diferença que o objetivo é ser absolutamente
“Cool” e sustentável. Aficionada de comportamentos ecológicos e conscientes,
com grandes causas com Africa como cenário, o seu discurso é uma espécie de
frases articuladas pela Miss Universo com letras dos Pixies e máximas dos
grupos alternativos ecofriendly mais
radicais, mas, trocando as old school Birkenstock pelas cópias new age by
Isabel Marant.
Ela frequenta o ginásio c/ SPA mais luxuoso
dos subúrbios. O seu personal trainer, com quem fala mais do que com a própria
mãe, tem o estatuto de exclusividade com direito ao seu número de telemóvel
pessoal e acesso direto ao seu perfil não profissional do Facebook e Twitter. O mesmo acontece com a sua coach
de nutrição funcional. Não mete uma uva à boca sem trocar inúmeras impressões
com ela, e tem sempre grandes dúvidas sobre rótulos alimentares não
economicamente sustentáveis. Não se coíbe contudo de comer cerejas de Cuba no
Natal ou peixe rico em ómega 3 pescado nas profundas águas do Alasca, desde que
lhe garantam que faz bem à pele ou simplesmente porque lhe apetece.
A maior aspiração dela é fazer (muito) dinheiro mudando o
mundo.
Mas, tem sempre um Plano B que pode bem passar pelo
casamento com o chefe sub-35 que entretanto concorreu a um alto cargo elegível
no partido que o viu nascer. Ela é uma mulher prevenida, pelo que o Plano C é ficar
adepta do baby boom, com o baby mais promissor lá do escritório que
sonha vir a arranjar um emprego na Wall
Street. Não é que ela tenha um gosto particular por criancinhas, mas, alguém
tem que vestir as roupinhas que o Karl Lagerfeld desenhou para os mini-Chanel.
De repente, já nos 40 sonha ser vista durante o dia a passear com a trupe
overdressed nas avenidas onde as lojas de luxo dão um ar de sua graça. Afinal,
tem que fazer valer o sacrifício de casar com o gajo que primeiro lhe arranjou
um Visa platina e lhe ofereceu uma viagem em 1ª classe ao Dubai no dia do seu
39º aniversário.
Ela é a digna representante do novo feminismo...
Ela é talvez das pessoas mais inteligentes e talentosas da
sua geração, mas, acha que passar os dias num escritório com vista para sedes
de bancos não é absolutamente nada cool, para além de que o ar condicionado
encarquilha… Ela é assim a representante digna de um novo feminismo do seculo
XXI que usa o capital erótico, essa combinação demolidora entre a sedução física
e o magnetismo social, como arma para subir na vida. As novas feministas como
ela esforçam-se por adquirir conhecimentos e ao mesmo tempo em conseguir um
look irrepreensivel. Ela defende, no seu blog com milhares de visitas por dia,
que o charme constroi-se e ter uma aparência enérgica é meio caminho para o
sucesso. Ir ao cabeleireiro e comprar roupa são investimentos racionais, jamais
uma perda de dinheiro. Elas são eximias em explorar as fraquezas dos homens. De
resto a vida nunca foi justa para ninguém e nesse campo batem-se em pé de igualdade com
eles que usam a sedução desde as cavernas, para obterem das fémeas o que
querem. Ela é admirada, por motivos bem diferentes, por homens e por mulheres
que a seguem nas redes sociais exaustivamente, assim como as suas máximas de
que a aparência e o estilo são ditados pelo esforça e pela dedicação e não pela
genética. Para aliviar a consciência dos outros, mais do que a dela, dedica-se a causas sociais enquanto o marido
se entretem a financiar star-ups de filhos dos amigos.
Essas mulheres são tão cansativas...
ReplyDeleteA rapariga é mesmo cansativa... Mas nunca tinha visto a coisa por este lado, se bem que já dei por elas, por aí. Aos 60 é vê-las na penúria a venderem as memórias a uma editora de terceira na esperança de sacarem um milionário!
ReplyDelete