Não
sei bem quando é que parecer saudável se tornou uma parte importante de um
estilo de vida de luxo, mas, acho que foi durante a recente crise financeira
que assolou o mundo ocidental. As pessoas começaram a questionar a moralidade
de comprar uma mala cujo preço dava para alimentar uma família de desempregados
durante um ano. Gastar uma pequena fortuna em algo que promove a saúde física e
psicológica deixa as pessoas menos culpadas.
Mas,
um estilo de vida obcecadamente saudável não fica mesmo nada barato: é a quota
do ginásio com personal trainer incluído que chega a ascender a €250 mensais;
São os sumos verdes diários que podem custar bem mais do que uma refeição na
tasca do costume; os produtos biológicos da “Mercearia do Bairro” onde um quilo
de limões bio pode custar mais do que bifes do lombo do hipermercado; os
produtos de beleza orgânicos sem químicos incorporados com pepitas
de ouro e pó de diamantes; os suplementos alimentares da Whole Foods que acrescentam mais umas boas dezenas de euros ao orçamento mensal…
isto para não falar na roupa (de inspiração) desportiva dos designers de luxo
como a Chanel, Stella McCartney ou Alexander Wang...
Depois
temos toda uma panóplia de roupa e sapatos diferentes para as várias classes no
ginásio, pois, ninguém vai para a aula de Body Pump com o mesmo look que usou
no Cycling… A prever essa tendência as marcas de desporto como a Adidas e a
Nike estabeleceram parcerias com fashion designers e it-girls, elevando assim a
objeto de desejo roupa e acessórios para fazer… ginástica!
Contas
feitas são milhares de euros para sustentar o vício da vida saudável. Não é,
pois, de admirar que este lifestyle que elege as aulas de fitness num clube da
moda de acesso restrito e sportswear caríssima como o ultimato do luxo, se
torne o "it" mais apetecível e claro tão inacessível ao comum dos
mortais como uns sapatos Prada ou uma mala Hermès.
Hoje
o tópico social é o tipo de ioga que praticamos ou o bootcamp que surgiu num
hotel de cinco***** onde estoirámos o plafond do doirado cartão de crédito para
pagar 10 dias a sumos verdes e meditação às 6h da manhã. Os ricos ou aspirantes
comparam agora esse tipo de coisas tal como antes se comparavam carros topo de
gama ou o último grito em gadgets. Comer bem e tratar o nutricionista por tu e
que vemos mais vezes do que a nossa própria mãe, confere uma sensação de superioridade
moral e um sentimento de classe e de privilégios.
Assim
nasce um novo tipo de discriminação contra quem têm uma percentagem de massa gorda
superior ao que os manuais aconselham ou que são apanhadas em flagrante delito
com a boca nas gorduras saturadas e nos açúcares refinados.
Os novos escravos modernos não trabalham 16
horas por dia em fábricas estrangeiras, antes, se submetem voluntariamente a regimes
de alta restrição calórica e a autêntica disciplina militar onde o exercício é
levado à exaustão em bootcamps de luxo.
Obcecados
pela forma fisica, os homens aprenderam com as mulheres a contar as calorias uma
a uma, vão trabalhar com os míticos "trainers" Stan Smith da Adidas,
um acessório Alexander Wang e um fato Hugo Boss. A maioria deles são gays.Os
outros tentam perceber porque é que os gays têm tanto sucesso entre as mulheres
e inspiram-se neles.
Estas são as novas tribos urbanas onde o luxo é sinónimo de
ser ou parecer saudável com muito estilo, ou seja, carregar um tapete de Ioga
Chanel numa mão e um green juice na outra. Eis o novo lifestyle a que muitos
aspiram e transpiram para conseguir. A boa notícia é que o suor é democrático
até inventarem um odor corporal a cheirar a nº 5.
paula
lamares| janeiro 2015
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