Uma Aventura nos
Saldos da Zara
Desconheço se o facto de o dia 28 de dezembro – data oficial
de início dos saldos na Zara – ser o dia mais esperado do ano define os tempos
que vivemos, mas, temo que isso não abone muito a nosso favor se pensarmos que
nesse mesmo mês houve acontecimentos dos mais importantes no calendário laico e
religioso. O nascimento de Jesus, a Restauração da Independência ou o Dia de
Nossa Senhora da Conceição, para já não falar do último e mítico dia do ano,
são acontecimentos menores face ao culto moderno dos saldos da Zara.
Acho até
que devido à enorme proporção tomada pelo dia que marca o início do caos Zara,
o governo em vez de restabelecer o feriado de 1 de dezembro, pense em conceder
um feriado móvel para o dia oficial de abertura dos “zaldos” já no próximo
2015. Teria os votos garantidos de grande parte do mulherio que assim ficaria
com o dia livre para “zazar” evitando engarrafamentos de tráfego e outros inconvenientes
para quem vai ali só à FNAC ou à Worten.
De facto nada tem de racional este caos que se instala nas
lojas Zara nos primeiros dias de saldos. A confusão é abissal, as feiras ao pé
disto são um evento elitista, as empregadas suspiram cansadas e ainda com menos
paciência que o habitual, proferindo o usual “O que há está à vista” ainda com
mais enfâse. Mas, nada está à vista, há roupa pelo chão, pisada, esmagada,
suja, desbragada, rota, amassada, manchada de maquilhagem, rebentada por quem
veste o 40 e quer caber num XS “porque não há maior”… filas intermináveis nas
caixas, homens dispostos a servir de cabides para casacos, sapatos, acessórios e
que mais que as mulheres lhe vão enfiando a torto e a direito para cima.
Crianças birrentas e entediadas a fazer dos provadores parques infantis. Um
calor tropical que convida as mulheres a ficarem em soutien para provarem tudo
e mais alguma coisa que depois, provavelmente, só vão vestir para aí uma ou
duas vezes. Promessas de fechar a boca a tudo o que seja mais calórico do que
uma folha de alface para caber naquelas calças que só há em 34. Ida ao
McDonalds a seguir para contentar a criançada altamente chateada.
E a aventura
irá repetir-se uma e outra vez nos dias seguintes porque há sempre novidades,
coisas novas a chegar dos armazéns e números novos provenientes das trocas que
há uma sede nunca vista de Ms e Ls.
Tudo isto é ainda mais inexplicável porque se virmos bem os
produtos nestes primeiros tempos de saldos têm descontos que não chegam aos
cinco euros e em alguns casos não passam de uns cêntimos. Porque é nestas
alturas de stress que somos levados a fazer compras por impulso porque
sim, porque é um falso barato, porque até há no nosso tamanho. Porque é sempre
bom termos mais um vestido preto/ casaco beringela/carteira dourada/sandálias altíssimas
para usar naquela ocasião especial que nunca chega e que quando chega nos
apetece comprar algo que tenha a ver com a nossa disposição do momento. Porque
somos tentados a comprar o que não tem nada a ver connosco mas que supostamente
está na moda que entretanto passou e nós nem demos por isso. Porque somos
tentados a comprar dezenas de versões do mesmo produto em cores diferentes mas
em tudo semelhantes e depois parece que andamos sempre de farda e à conclusão
inevitável de que “Não temos nada para vestir”.
É verdade que também eu vou à moderna catedral “zazar”
nestes dias, mas, o que eu faço é investigação sociológica. Esta é a minha
desculpa, certamente que são capazes de inventar outras tão boas quanto a
minha. Mas, também é certo que raramente compro. Só o faço quando encontro algo
especifico que “guardei” há muitos meses atrás no cesto do site e só quando ele
atinge um preço realmente baixo, nunca abaixo dos 50%. Mas, isso só acontece mesmo
no fim dos saldos porque tenho a sorte genética de calçar o 40 e conseguir
enfiar-me num XS sem o sacrifício da alface (não, não vos digo isto para vos
atazanar… é verdade.)
O que eu amo na época dos saldos é mesmo ir a lojas que
durante o ano jamais entraria e que aí sim se podem encontrar bons
investimentos. Como é o caso de um casaco comprido camel de corte clássico que está
nos 30% numa boutique exclusiva da Avenida da Liberdade e que espero
desesperadamente que chegue pelo menos aos 70%, ficando ao preço Zara mas com a
qualidade da marca … (ah! Não digo eheh!).
Agora se se quiserem ir matar-se para os saldos da Zara,
arriscarem-se a ficar com uma unha de gel enfiada no fecho dos jeans onde
tentam desesperadamente caber, com as extensões de pestanas dentro de uma
camisola de lã XXL ou com os cabelos nas mãos de uma concorrente desleal que
puxou o mesmo casaco, fiquem à vontade. Depois, não se queixem que vão para casa
cheias de sacos de roupa igualzinha à que têm em casa ou com peças tão
diferentes que só vão dar uso no Halloween. Não digam que não vos avisei!
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