Wednesday, June 4, 2014

INSPIRATION: BACK TO BASICS ... OR MAYBE NOT!







Todos sabemos o valor do(s) básico(s), sejam peças de roupa, tendo como expoente máximo a t-shirt branca e os jeans,  acessórios, como sejam uns pumps pretos ou uma carteira (tipo) Chanel,  ou produtos de beleza como o Nivea da latinha azul. São eles que nos salvam em diversas ocasiões, e sobretudo naquelas manhãs de neura em que asseguramos com os dentes todos que “não-temos-nada-para-vestir” defronte a um caótico roupeiro apinhado… de nadas. Sendo que os básicos estão para a nossa vida como os bombeiros para as florestas estivais, isso não quer dizer que nos contentemos com eles para toda e qualquer situação. Não há nada mais monótono que uma pessoa que só usa básicos quer esteja a trabalhar, a laurear a pevide ou no tapete vermelho.   Nem só de LBDs ( Little black dresses)deve viver a mulher e os mais básicos podem ser muito sexy mas se usados em conjunto com acessórios certos que devem ter “statement” escritos na cara. Esta é a regra básica do estilo!

Para mim não há nada mais insultuoso que chamar “básica” a uma mulher. Isso significa de imediato alguém completamente destituído de imaginação, sem energia, extremamente aborrecido e que foge do risco como o diabo da cruz. Se uma pessoa se contenta com o básico jamais saberá o sabor do extraordinário. Há gente que passa a vida a tentar parecer o mais normal possível, desconhecendo em absoluto a adrenalina de pisar o risco de vez em quando. Quem usa sempre a porta esquece que sair pela janela também pode ser uma solução mesmo que não seja em estado de emergência. Pisar a erva em vez do caminho dá outro prazer à caminhada… e ir pelos atalhos faz-nos descobrir novos e inusitados caminhos. Quantas vezes a solução não é encontrada quando mudamos a perspetiva dos factos. Olhar para a paisagem de sempre de forma diferente é uma forma de viajarmos sem sairmos do mesmo sítio.

Reconheço que é preciso alguma coragem para sair de casa vestida de encarnado, laranja e rosa com uns sapatos amarelos, mas, quem o faz com convicção e ultra-confiança acaba por ser seguida e assim inaugurar tendências. Quem desbrava caminhos corre o risco de ser considerada insana, mas, viver sempre dentro dos limites apertados da normalidade não passa de uma sombra, ou pior de uma sombra beije contra uma parede branco sujo.

Uma mulher básica consome episódios do Sexo e da Cidade como se não houvesse amanhã para se sentir uma moderna urbana, bebe café com leite e pão com manteiga desde sempre ao pequeno-almoço ignorando sucessivamente as ementas alternativas, compra sempre o mesmo tipo de roupa em diversas cores primárias e pensa que as tatuagens e os piercings são usados só por gente de má vida ou pelas gentes do espetáculo que são uma e a mesma coisa. Passar despercebido é o seu único lema de vida e acham que vestir de preto total é demasiado berrante. No oposto da mulher básica há a mulher exuberante que não passa de uma básica com roupa demasiado decotada e curta e justa, ou seja, que usa roupa básica dois números abaixo do que devia.

Reconheço que não é fácil termos que passar a vida a fazer escolhas em vez de mastigarmos as escolhas pré-cozinhadas e testadas por outros que julgamos iguais a nós. Seguir o rebanho dá muito menos trabalho que ser a ovelha tresmalhada que põe tudo em causa, desobedece ao pastor e se sujeita a levar dentadas dos cães de guarda. Ser o centro das atenções não é para todos e alguns, após conquistarem os holofotes, diluem-se como o barro cru depois de uma chuvada. Ser-se extraordinário é em si algo extraordinário, tal como assumirmos a vida pelos cornos em vez de fugirmos do primeiro bezerro que corre atrás de nós. Uma pessoa superior não é aquela que se julga mais ou melhor que os outros. É a que segue o seu caminho sem se preocupar com o que os outros pensam e que, sobretudo, tem essa capacidade de se rir de si próprio. O sentido de humor, o prazer de viver e o gostar do que se tem e do que se é são condições essenciais para se ir para além do básico em rumo a algo extra.

Os básicos adoram dar conselhos aos outros que não são básicos, têm até uma certa necessidade de superproteção dos não básicos por julgarem que eles são caóticos, com tendência para a adição e sem capacidade para fazer escolhas corretas na vida. Porque para os básicos tudo o que seja escolher fora do catálogo é correr riscos desnecessários. Eventualmente, até são boas pessoas, discretas que falam sempre baixinho no mesmo tom de voz indefinido mas que se preocupam sinceramente com os seus semelhantes, sobretudo, com os tresmalhados da norma. O problema é que acabam por incomodar os mais criativos e interessantes, a ponto de estes evitarem o seu convívio mais íntimo. É por isso que os básicos só se dão com os básicos, formando uma enorme mancha de fundo cor de gente.

Básicos e não básicos têm abordagens muito diferentes dos mesmos factos da vida. Os básicos vão ao McDonald’s, os não básicos vão à hamburgaria do Nald’s. Para os básicos uma quebra na rotina é uma contrariedade, para os não básicos é uma festa e há que comemorar e quebrar a rotina de novo. Mas, é no drama com que a vida por vezes nos brinda que melhor se distinguem os básicos dos outros. Num azar, na doença, no desemprego, na morte um básico fica paralisado à espera que as coisas se resolvam ou que alguém “mais qualificado” lhe resolva os problemas. Não raro dão-se ao pessimismo básico e fazem o papel básico da vítima coitadificada. Os não básicos chutam a vida para a frente, vão à luta e desbravam oportunidades com as experiências, mesmo com as mais negativas aprendem sempre qualquer coisa e não desistem nem deixam os que os rodeiam vitimava-los. Estão habituados a correr riscos e a ultrapassarem a fronteira da sua zona de conforto, pelo que estão mais bem preparados para os desaires da existência. Têm a noção que a verdadeira vida começa sempre após conseguirem passar essa zona de conforto que os básicos necessitam como de oxigénio.

Se tiver que escolher é óbvio que prefiro passar a vida rodeada de não básicos, ainda que tenha verdadeiros amigos básicos. E como em tudo os básicos fazem parte da paisagem e são importantes. Por vezes, temos momentos na nossa vida que sabe bem ser básica, não pensar muito e vestir uns jeans com uma camisa branca e um blazer preto. O básico pode ser bastante elegante e confere-nos a segurança de não termos que enfrentar o risco em determinadas situações que nos fazem sentir mais inseguras. Se seguirmos o básico não há que enganar e ficamos bem em qualquer situação. O instinto pode ser bastante básico e todos sabemos como o instinto é importante para nós mulheres. O risco é limitarmo-nos ao básico e vivermos uma vida pautados pela mediania quando podíamos ser extraordinários e capazes de feitos espetaculares que só não somos porque temos pavor de sermos colocados à prova como seres humanos completos, autónomos, com iniciativa e como seres criativos únicos com a extraordinária capacidade de abstração e reinvenção.      




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