Wednesday, April 16, 2014

INSPIRATION: WILL BE THE INTERNET A NEW RELIGION?


 
 
Penso no mundo pré-internet enquanto vou ao Google e digito umas palavras ao acaso sem sentido aparente para descobrir que afinal há alguém ou alguma coisa com esse nome. Teclo palavras com prováveis erros ortográficos (mesmo em inglês) e elas passam a fazer todo o sentido como, por exemplo, “deejay meme” (a escolha foi completamente aleatória) e fico a saber que isso existe. Aquela máxima de que já tudo foi inventado ganha um novo sentido através da internet. Para o bem e para o mal, em nome da sabedoria e da ignorância e daqueles que de tão ignorantes se julgam sábios, a internet é a nova religião, com biliões de seguidores cheios de fé naquilo que Ela diz sem ter que provar absolutamente nada.
Se não está na net não existe, esta crença é tão válida para pessoas como para animais e coisas. "Não tens perfil no Facebook!!!!", sendo que olhamos para a pessoa em causa e vemos logo ali uma espécie de  apócrifo social .  Nunca depois da invenção de Deus, houve algo assim – uma espécie de entidade superior que não se vê, nem se sabe donde vem e que quando vem está em toda a parte (na piscina do vizinho bom como o milho e no horror da guerra do Darfur). Para além disso, reproduz-se com a força de um vírus fatal e até nas coisas mais incríveis que Ela diz, todos acreditam. "Está na net" e é como se fosse uma oração moderna com letra dos Artic Monkeys. As novas igrejas são as redes sociais e o Twitter, uma espécie contemporânea de confessionário que nos faz a todos um pouco de sacerdotes em busca de uma missão – salvar e/ou enterrar o próximo.

Como em todas as novas religiões, a internet fabrica os seus mártires, os seus adictos, os seus fundamentalistas… e os seus ‘velhos do Restelo’ privados que contra ela discursam. Estes páridas tecnológicos, à semelhança dos antigos profetas,  não se cansam  de pregar a maldição para os jovens e mais incautos que  ingenuamente caem na Rede dos seus mistérios. De como a net fomenta a intriga social, e consequentemente, a cobiça (da mulher do próximo e dos bens do próximo), a inveja e outros pecados mortais que sempre existiram desde que o homem se endireitou e passou a poder espreitar por entre os arbustos. Só que agora espreita para sofisticados écrans. Não nos esqueçamos de que a única coisa que mudou foi a forma de transmissão da intrincada novela que é a vida real , pois, o conteúdo e intenção permanecem exatamente os mesmos. Por exemplo, a sms (para os apressados) ou emails (para os que têm o dom da palavra escrita) substituiu o post-it físico para acabar relações ou pedir o divórcio. Quem não se lembra do episódio de "O Sexo e a Cidade" em que o namorado da Carrie acabou com ela através de um simplório post-it? E posso garantir-vos que não é tão traumatizante ler uma mensagem num tablet “ Não aguento mais. Quero o divórcio” do que num post-it amarelo com a puta da caligrafia do ex-qualquer-coisa espetada na cabeceira da cama, com a mesma vulgaridade com que diz “ Querida, os meus Chocapics acabaram”.

Se pensam que os jovens têm a vida facilitada porque têm acesso desde o berço a esta nova espécie de religião que religa todos- a- todos- e- tudo- a- todos- e- todos- a- tudo, estão bem enganados. Pensem em todas as figuras ridículas que fizeram no Secundário, as fatiotas ultrajantes que as nossas mães nos obrigaram a vestir nas cerimónias familiares, aquelas fotografias horríveis de adolescentes desengonçados com os primos igualmente sofredores dessa doença que é a adolescência que estica as pernas até ao infinito, nos encurva o esqueleto e nos decora a cara com crateras do tamanho do Açores? Até à existência da internet, quanto muito esses testemunhos do ridículo só existiam nos álbuns de fotografias, em casa de pais e avós  que nos apressávamos a esconder no fundo da gaveta quando se levava a/o namorada/o lá a casa. Hoje, está tudo às claras e PARA SEMPRE. Pior, são os próprios pais que fazem questão de com orgulho documentar para a posteridade a fenomenal birra  dos rebentos ou os erros crassos na redação escolar, muito pouco abonatórias para os mesmos. Ali está exposta a nossa merda toda, em triliões de posts, devidamente acompanhados de fotos e videos e que podem envolver mais tarde muita psicoterapia.      

A internet não é o bicho papão que alguns proclamam e de nada serve as proibições de acesso que recentemente o governo, de forma inteligente e esclarecida, tomou relativamente aos computadores das escolas públicas. O Ministério da Educação faz muito bem em proteger os miúdos, profs e funcionários, não deixando que na escola laica se pratique qualquer tipo de religião. O governo francês também tentou algo assim com as práticas muçulmanas, e acho que não correu muito bem. Por outro lado, o governo português mostra que está muito à frente, ao considerar as redes sociais uma espécie de Igreja dos novos tempos. Ninguém se lembraria, por exemplo, de alugar o anfiteatro das escolas aos Manás?! Acho bem que se proiba, na escola, o acesso ao confessionário Twitter, onde os alunos se poderiam confessar atraídos pelo decote da professora de fisico-quimica, acompanhada da respetiva foto. Lá teria que ir o diretor para penalizar os alunos com a reza em voz alta da tabela periódica 50 vezes. Uma chatice, contudo, evitada se se proibisse as professoras de usarem tops demasiado decotados em vez do acesso à internet, não acham? Claro que este seria mais um pretexto para outra manifestação do sindicato dos professores com criativos cartazes a gritarem em plena rua "Mais fascismo não" devidamente ilustrados com o decote da vítima.

 
 Uma verdadeira intrusão ilegal na soberana liberdade de vestir das professoras, diriam os dirigentes sindicalistas nas redes sociais. Mas, que ninguém leria porque o acesso está interdito em toda a rede escolar e os professores em casa não têm tempo de ir à net, ocupados em corrigir testes e trabalhos. Se há que sacrificar alguma coisa que seja pois a liberdade de expressão! 

Voltando ao que aqui me levou a escrever esta panóplia de questões levantadas pela polémica invenção da internet, experimentem googlar qualquer disparate e vão ver que ele existe, algures, legitimado e carimbado pela wikipéia – esse antro fazedor de sábios ignorantes. Vão ao Twitter e inteirem-se das últimas confissões da Miley Cyrus e -  maravilha das maravilhas só permitida pela existência de internet - se escreverem mal o nome da dita e googlarem “Mirey Circus”, inteligentemente, a net irá corrigir o vosso erro para o nome correto. Digam lá se isso não é incrível? Certamente, a cura imediata para os disléxicos crónicos e ignorantes profundos através de um simples ENTER. É ou não é um milagre autêntico digno de uma verdadeira religião? Amen!     
 
 

 

1 comment:

  1. Concordo a 100%. Como em tudo há duas histórias para o mesmo assunto. Eu, da géraçaõ pré-internet que passava as férias de Verão entre a Praia da Poça e o Largo do Camões e as tardes a ler os Cinco e o Sete,a gora não passo sem internet. É terrível, mas é verdade. Mas não se confunda o "não passar sem" com o "acredito piamente em tudo o que lá vem". Tudo sempre existiu, a questão é que agora está ao nosso alcance muito mais facilmente do que ir passar a tarde à Biblioteca pesquisar enciclopédias cheias de pó. La em casa a internet é raínha e senhora: a Mãe bloga, faz cursos online, pesquisa, trabalha, lê revistas (se bem que continuo a preferir as versões em papel), o Pai joga, trabalha. O Filho joga, tem a sua página no Facebook (devidamente controlada por nós, mas não censurada). Já lançamos negócios, já fizemos dinheiro. Mas sempre com a devida distância. Sabemos que a qualquer momento se pode virar contra nós. Há regras, porque da mesma maneira que as Miley Cirus desta vida se fazem com a internet também nós nos podemos fazer e desfazer. A internet não é má. Nós é que sempre tivemos uma costela do avesso e agora tivemos a sorte de nos porem na mão uma ferramenta que tanto dá como tira. É preciso é ter muito juízo (e educação, que também falta à Cirus, mas isso é outra conversa :) )

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