Quando Sofia Aparício apareceu no inicio do desfile de Filipe Faísca, envolta no fumo do seu próprio cigarro, veio-me à memória um outro desfile grandioso, dessa vez da Louis Vuitton Fall 2011 e com Kate Moss ,quando Marc Jacobs estava por detrás dos destinos dessa grande casa de moda e as apresentações das coleções da LV eram autênticas superproduções hollywoodescas. Claro que os modestos recursos ao dispor de Filipe Faísca são ínfimos face aos recursos planetários de marcas de luxo como a LV, mas, o que quero aqui reforçar é a ideia de espectáculo de glamour e sedução que deve estar por detrás da concepção de um desfile de moda. Há muito tempo que lá fora a fórmula passadeira+modelos+roupas é levada a outra dimensão, interrompendo a monotonia que sempre se cola às semanas da moda com um número de desfiles superior a que humanamente é possível lembrar, mesmo que se goste muito de moda. O que fica na memória, depois da azáfama passar, são momentos destes que Filipe Faísca soube criar, a sedutora Sofia Aparício no papel de femme fatal a encher a passerelle como só ela sabe fazer.
Seguiram-se muitas outras celebridades do fashion world português, a desfilarem pelo tracejado amarelo como se da rua de uma capital de moda se tratasse.A coleção "Entropy" misturou o sport-chic com o clássico glamour de uma silhueta hiper-feminina a que os acessórios de luxo, incluindo os sapatos Christian Louboutin com quem Filipe Faísca fez uma parceria, deram um grande contributo para abrilhantar a passerelle.
A coleção propriamente dita foi uma das minhas preferidas desta edição da Modalisboa. As referências aos anos 70 (uma das minhas décadas favoritas em termos de estilo) estiveram sempre presentes quer nos acessórios/óculos, as peles e o kitsch tornado desejável, assim como numa certa "libertinagem", onde o sexo desempenha um papel muit pouco implicito. Gostei da ideia dos sacos plásticos transparentes onde as modelos transportavam as malas, mostrando que às vezes bastam coisas simples para tornar um desfile memorável.
Sublinho, igualmente, a estampagem de algumas peças inspiradas em imagens de faróis de carros e depois lembrei-me de outro desfile da Prada, todo ele inspirado em carros e velocidade.
Mais uma vez Filipe Faísca, sempre atento ao mundo contemporâneo, soube interpretar as tendências mais atuais, e num trabalho rico em referências que pululam história da moda e da fine art (V. Wolfgang Tillmans' car lights) recente e mais distante, apresentar uma coleção desejável mas sem descurar o cariz Faísca's style.
Foi o último desfile desta edição da Modalisboa Vision, o público estava ao rubro e as palmas e gritos foram uma constante, talvez a antever já a close party mais tarde e o espírito de despedida até Outubro.
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| Headlights by Wolgang Tillmans |
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