Não sou muito do género de me deixar levar por questões ‘fraturantes’
ou ‘politicamente incorretas’ como agora se diz pelos jornalistas da nossa
praça, essas que implicam dux’s ou co-adoções e congéneres e que toda a gente
fala porque sim… durante os 30 segundos de fama que implode em cada um de nós
pelo menos uma vez ao dia. Como se costuma dizer há certas questões que ‘cada
cabeça sua sentença’ e quanto a isso não há nada a dizer. Respeito todas as opiniões
que respeitem a minha, só posso falar da minha experiência e do
que me é dado observar por aí.
Posso dar-vos o caso do Sr. Malaquias Pimentão que conheci, pessoalmente, em circunstâncias profissionais, do tempo em que fui advogada, pai de
dois infantes e devoto esposo da D. Mariazinha Pimentão (nomes alterados por
questões de privacidade como se impõe). O Sr. Malaquias Pimentão seria
considerado em termos sociais e legais como um bom pai de família, apesar de se
embebedar todos os dias santos, arreigar no canastro da mulher as suas
frustrações de homem matulão e energúmeno, e de jamais ter pegado num filho ao
colo, mudado a fralda ou dado um biberão que isso nem seria muito grave se a
ausência desses mimos não implicasse um total abandono das suas obrigações de
progenitor, incluindo cuidar e educar como reza a Bíblia (acho eu) e todos os
manuais de instruções para pais (descontando os muito modernos que pregam a
filosofia do abandono por tolerância de toda e qualquer má-criação e sucessivas
compensações em forma de chocolates e ipads).
Acontece que o Sr. Malaquias
Pimentão como bom português era possuído por um primarismo espertalhão baseado
na filosofia do desenrascanço, e já que o dinheiro dos biscates não chegavam
para pagar os vícios da bebida e do tabaco, soube por portas e travessas que
fazer filhos lhes dava direito a um rendimento mínimo garantido e mais abonos
para os putos. Pelo que como já não conseguia alçar a 3ª perna em virtude dos
nefastos efeitos dos vapores alcoólicos, decidiu adotar um e levou a sua
avante. Dizia-se no relatório das assistentes sociais que acompanharam o
processo de adoção que o Sr. Malaquias Pimentão para além de ser um bom pai de família,
mui honrado e trabalhador, tinha construído com a sua esposa de mais de 30
anos, um lar saudável e equilibrado onde reinava o amor incondicional pelos
seus dois filhos. Não se explicitava no relatório que tipo de sexualidade
praticava o Sr. Pimentão, com que frequência ocorre o ato, em que locais,
quanto tempo dura, etc. Pelos vistos isso eram questões que não interessavam nada
ao bem-estar do futuro adotado. Quanto à devota esposa que há mais de 30 anos
sofria todo o tipo de agressões em silêncio, também não era agora que ia lançar
a boca no trombone. Os filhos deste exemplar casal nunca foram ouvidos, apesar
de viverem no terror de ouvirem os passos do pai à noite a aproximar-se de casa
e o som terrífico da chave a rodar na fechadura. Nem sequer os vizinhos de cima
foram inquiridos sobre os sons deveras suspeitos que vinham do andar de baixo,
ou mesmo o facto de que ouviam certas coisas que nenhuma criança deveria ouvir.
Um dia deu-se a desgraça que todos estavam á espera que
acontecesse, desvairado com uma aguardente fora de prazo que lhe atingiu os fígados
do lobo central do seu enfrascado cérebro, o Sr. Malaquias Pimentão atirou a
mulher pelas escadas abaixo que logo ali encontrou a paz eterna porque tanto
ansiava. O Sr. Pimentão foi preso por homicídio involuntário da esposa e os filhos atirados
para uma instituição sobrelotada e apostada em fazer os filhos de proscritos
continuarem a saga dos progenitores, rumo à marginalidade e ao vício.
Entretanto, a Sra.
Mariazinha Pimentão que Deus a tenha no descanso merecido, tinha um irmão e tio
das crianças. Ao saber da tragédia, logo deu início ao
processo de adoção dos sobrinhos, apostado em retira-los do orfanato antes que
se transformassem em Malaquiazinhos. Vieram novamente as Sras assistentes sociais
que mudaram completamente os critérios do respetivo relatório e concluíram que
o tio, candidato a adoção e seu legal marido, não reuniam os requisitos que a Bíblia
exigia, que Deus recomenda e a natureza sanciona. Um advogado esperto e muito
bem cotado no raking dos advogados especializados em chico-espertismo, aconselhou
o tio das crianças a mudar o processo de adoção em nome individual, nem que
para isso tivesse que ignorar os direitos do seu legítimo esposo que respeitava
e amava, partilhando a vida comum há mais de 20 anos.
É que aos olhos dos
seus concidadãos e da lei, uma coisa é o tio das crianças ser um homossexual
bem casado e pagador dos seus impostos, com uma vida equilibrada e estável,
outra coisa é ser um gay dissimulado, não importando nada que leve uma vida
sexual desregrada (como aliás também acontece aos hétero… e a pessoas de todos
os tipos e raças) desde que o lar fosse impoluto e sagrado, ou seja, que
fizesse as porcarias longe da vista das crianças. No 1º caso a adoção das
criancinhas Malaquias seria contra natura e nefasta a um saudável e harmonioso
crescimento. No 2º caso, aplicando-se a regra longe da vista longe do coração,
estaria tudo certo e o tio poderia eventualmente adotar, desde que ninguém
soubesse de que forma, onde e com quem gostava de praticar o ato sexual.
O que quase
ninguém refere sobre este polémico assunto é que a questão central não é o
direito de adotar seja por quem for, mas, o direito das crianças a serem
adotadas e integradas numa família que as ame, cuide, eduque e respeite.
Se essa família é constituída por duas pessoas de sexo diferente, do mesmo
sexo, monoparental, negra, amarela, às riscas, ateia, cristã, budista, benfiquista,
etc. etc. na minha opinião não é o cerne da questão ou não fosse a diversidade
uma das características mais ricas do Ser Humano. O que não pode ser é que um pai
que bate, abandona, maltrata a mãe, não cuida e não educa ser considerado apto
para adotar à partida, só porque pratica sexo com fémeas, não importando com quantas,
com quem, onde e como porque isso são questões do foro intimo, por isso muito difíceis
de provar e determinar. Outra coisa é um casal homossexual (ou lésbico) ser
considerado inapto para adotar, à partida, transformando essas questões que
antes eram do foro intimo – por isso invioláveis e inquestionáveis, alvo de
discussão pública e quiçá referendáveis.
Na minha opinião, nenhum casal seja de que tipo for, devia
ser sujeito a refendo, muito menos sobre as questões mais intimas que só dizem
respeito a cada um. Isto porque acho que a questão está mal colocada à partida.
Alguém concorda que seja referendado o direito a uma criança ter uma família
que a cuide e eduque com amor e respeito? Porque, afinal , é disso que se
trata. Podemos nós em livre consciência pronunciarmo-nos por todas as crianças
portuguesas que foram abandonadas e vítimas de maus tratos pela família que as
deviam amar e proteger, no sentido de dizermos aquilo que elas têm ou não
direito? Os direitos de uma criança são referendáveis?
O que está a acontecer é um aceso litígio entre dogmas político-
partidários que se protegem na cobardia da moral e bons costumes, para não
assumirem posições incómodas que podem ser comprometedoras para o seu
carreirismo partidário. Mesmo que isso se faça a custo dos direitos das
crianças portuguesas. Varrem assim a decisão para a sociedade civil, através de
um argumento infalível de que o referendo é um ato de democracia pura previsto
na Sagrada Constituição. Mais uma vez se confunde o cú com as calças (o que
neste caso é uma expressão totalmente adequada), pois, o que irá a referendo é
o direito dos casais homossexuais co-adotarem e não o direito das crianças
serem adotadas!!!
Quanto a mim, que me desculpem os mais púdicos, porque sou muito
esquisita quando se trata de crianças, não me interessa nada que os candidatos a
pais façam sexo ‘by de book’ ou by da Bíblia, de pé ou de joelhos, sejam
sportinguistas ou gostem de amarelo, venerem o Buda ou o Mandela, Clinton ou
Obama… o que realmente me interessa é que a criança seja adotada por uma
família que cumpra ‘by the book’ os princípios e direitos das crianças, e
sobretudo que as amem muito e muito e muito.
E não me venham dizer que as preferências sexuais dos pais
interferem na educação de uma criança, pois, que sim, mas, e a violência
doméstica, a ausência, os abusos físicos e psicológicos não interferem na
formação da personalidade de uma criança? E a prática reiterada de carências e
abusos emocionais em instituições cujas condições deixam muito a desejar? Sim,
façam um referendo sobre isso, façam a pergunta mais simples do mundo: Acham
que uma criança não tem direito a ser feliz porque foi rejeitada e maltratada
em algum momento da sua vida? E depois referendem-na. Mas, não percam de vista
o cerne da questão: A CRIANÇA!
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