Quando uma coisa é má chamo-lhe fase passageira; Quando
alguém está de mau humor, sorrio e sigo em frente. Quando a má sorte quase me
desespera acho sempre que a esquina está já ali para virar a coisa; Quando não
encontro a solução acho que deixa de ser um problema… Para mim não há mundos
redondos nem retas que nunca se intersectam, tudo está ligado por um princípio
e um fim, muito embora às vezes pareça que o meio dorido é infinito! Todavia,
convenço-me que não há mal que nunca acabe.
A idade não me tornou sábia, mas, ensinou-me os jogos de
paciência e a persistência como qualidades necessárias a atingir um objetivo
querido. Coisas que sonhei conseguir aos 20 só as consegui concretizar aos 40 e
muitos, mas, a vida é um todo contínuo e vamos sempre a tempo de encontrar os
nossos sonhos de juventude ao virar da tal esquina.
Outra coisa que a idade me avisou é sobre a necessidade de equilíbrio
na balança do ganhar e perder. A vida é menos aquilo que se ganha e que se
perde e mais a maneira como reagimos ao ganho e à perda. Aquilo que ganhamos e
perdemos acaba por passar e no final somos sempre nós mesmos iguaizinhos a nós.
Não sei se algum dia fui pessimista, acho mesmo que nunca
passei pelas idades problemáticas das prateleiras e dos armários. Sempre me
entretive menos a olhar em frente e mais a seguir em frente, as pessoas
positivas não são diferentes das outras, apenas, preferem o verbo e a ação à
contemplação e ao lamento. O que sempre me faltou foi tempo para cumprir tudo
aquilo a que me proponho, seguir os meus instintos e contemplar os meus desejos.
Desde cedo percebi que não há segredo nenhum em viver bem, é tudo uma questão
de nos convencermos que não podemos ter tudo e cada escolha pressupõe a
rejeição de milhares de opções diferentes. Mas, sobretudo, que é impossível fazer sempre
a escolha certa para o futuro, quando escolhemos um caminho é simplesmente a
escolha certa para aquele preciso momento em que escolhemos, com os dados que tínhamos
à altura. O remorso e o arrependimento são sentimentos perfeitamente inúteis
porque aquilo que não se pode mudar é o tempo que passou.
Aquilo que somos é muito diferente daquilo que achamos que
somos, a opinião que temos sobre nós próprios é erradamente depreciativa. São
os outros que um dia contarão a nossa história que pouco ou nada coincidirá com
o que realmente aconteceu. Aquilo que somos e a nossa história será tão
diferente quanto uma guerra vivida e uma guerra contada nos manuais escolares.
A guerra é geralmente contada pelos vencedores e logo aí a verdade já sai
deturpada. A nossa guerra pessoal é entre nós e nós, a maior parte das vezes
pensamos demais e ansiamos outra coisa que não se parece nada connosco.
Aceitarmo-nos como somos só acontece muito tarde na vida. Os nossos olhos
quando nos observamos assemelham-se a uma casa de espelhos deturpados que
agigantam os nossos defeitos e tornam anãs as nossas qualidades. Raramente
vemos com os olhos mas com os sentimentos.
Ás vezes julgo-me uma mulher sem idade que numa hora se
sente uma criança curiosa, outra hora uma jovem entusiasmada e noutra ainda uma
pessoa amadurecida e desencantada. Muitas vezes coexisto ao mesmo tempo menina
e velha que recita um poema pessoano enquanto dança e dança e dança e ri
desalmadamente. Faço coisas antagónicas e conto uma multidão dentro de mim. São
a pessoa mais anti-solidão que existe, nunca estou sozinha. Não sei o que é
sofrer disso. Se quiser invento-me as vezes que quiser e quem quiser, mas,
acabo sempre por me encontrar na fantasia carnavalesca do dia-a-dia. Se não me
perdi até agora duvido que isso aconteça. Sei sempre quem sou pelas pessoas que
amo e a quem regresso sempre após uma longa viagem dure ela um minuto ou anos.
A minha pátria é o corpo das pessoas que amo. A minha língua
é a conversa de quem me ama. A cama onde me deito e descanso é a segurança de
um abraço forte que nenhum ciclone abala. Não sei se há amor ou amizade assim…
convenço-me que encontrei ambos.
Não há mal que sempre dure… bate bate até que fura. O
impossível só está um pouquinho mais longe. Com persistência chegamos. Em caso
de dúvida sorri-se. A vida é fácil é só seguir pelos intervalos. E outras parvoíces
que tais.
Há dias assim em que até a chuva me inspira a desenhar mil
sóis dentro de mim.
Sinto-me tão parva a ser feliz!
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