Thursday, December 6, 2012

INSPIRATION: BODY BALANCE'S CHRONICLES



No outro dia fui a uma aula de Body Balance. Para os menos familiarizados com ginásios, esta é uma modalidade que mete ioga, Pilatos, artes marciais e Tai-chi em 55 minutos de treino. Pensava eu que indo cerca de 5 dias por semana ao ginásio e praticando modalidades bem mais “mexidas” que metem força bruta e árduo treino cardio não teria problema em fazer uma aula de Body Balance. Portanto, munida das minhas havaianas e do meu tapete lá fui experimentar a coisa. Pois, enganei-me. Nos primeiros 10 minutos de aula já estava desesperada com tantos ângulos de lado, meias luas e poses crescentes que faziam os corpos dos meus colegas aficionados parecer elásticos de cabelo gigantes em ossos contorcionistas. Após, 10 minutos de desespero (e pensava eu que era dona de uma flexibilidade fantástica!), veio a parte cómica em que os meus comparsas com a respiração perfeitamente sincronizada, faziam sucessivas séries de saudações ao Sol. É que nem o facto de ter praticado mais de 15 anos de ballet me valeram naquele momento! Apetecia-me rir (e essa é a parte cómica), mas, precisava de toda a força abdominal deste mundo para me manter em equilíbrio, parada cerca de 1 minuto de cada vez e depois rodar sobre mim mesma, ignorando a força da gravidade e os meus 52 quilos, longe ainda do estado de pastilha elástica.


Nestas aulas há sempre pessoas muito diversas e que me inspiram bastante para logo ali lhes alinhavar histórias de vida, enquanto luto por fazer a pose do avião num só pé sem parecer que sou coxinha. Por exemplo, podemos identificar a chamada “Boazona”, para tal basta seguir os narizes masculinos que têm a dificuldade extra de manterem o equilíbrio enquanto apontam a ponta do nariz para o centro de gravidade da Boazona durante toda a aula. Sabem aquela ideia que consta de que os homens têm muito menos flexibilidade que as mulheres? É mentira, pelo menos entre os praticantes de Body Balance e, em especial, nas aulas em que esteja presente a Boazona. A Boazona também é identificada pelo seu corpo perfeitamente alinhado e simétrico, pelo seu tom de pele com um ligeiro brilho de bronzeado o ano inteiro e pelo seu cheiro natural a praia e maresia. O estilo é boémio e relaxado, um chique desmazelado e sem esforço, desses em que a mulher parece ter acabado de sair da cama, não obstante a necessidade de alta manutenção para parecerem que já nasceram assim.


Depois há a “Gaja” que é só show off! Parece uma autêntica acrobata e faz parecer aquilo impossível para reais humanos feitos de osso, algum músculo e gordura. Só que se repararmos bem, a Gaja passa mais de metade da aula a fazer acrobacias dignas de uma performance do Cirque du Soleil. A Gaja não percebe patavina de ioga, Pilatos e muito menos de artes marciais. Está ali para se exibir, e possivelmente para captar a atenção masculina e fazer inveja às outras vulgares espécimes femininas. O exibicionismo é mesmo o seu grande vício, e um exibicionista sem público é o mesmo que um bolo fingido, sem manteiga, com adoçante sintético e chocolate vegetariano.


O “Executivo quarentão” passa as aulas todas a tweetar e a mandar mensagens no iphone. O Executivo quarentão decidiu um dia que precisava de fazer um remake à sua vida, perder a barriga, fazer um transplante de cabelo onde a testa termina, quiçá uma lipoaspiração e algum exercício nada de muito violento, mas, tonificante. E se de passagem pudesse engatar a professora mais gira do ginásio, óptimo! O Executivo quarentão pensa que a vida termina no dia em que passar mais de 5 minutos offline e que a solidão não o apanhará desprevenido se conseguir ter mais de 5000 seguidores nos facebook. Vive como uma ilha, rodeado de tecnologia por todos os poros. Por isso passa a aula a tweetar “ Não posso passar sem o meu momento Zen. Já fui” ou “ Se precisarem de mim estou na Zen-lândia. LOL” e outras idiotices similares. Faz toda a aula lado a lado com o seu smart phone, aproveitando cada pausa para verificar se foi “menssajado”, se conseguiu mais um like de um perfil de Gaja (ver acima o que é a “Gaja”) ou, na pior das situações, fazer refresh no seu feed de instagram.

Finalmente, podemos encontrar nestas aulas em grande número a “Busy Wife” ( trad. A Esposa Ocupada). A Busy Wife não faz absolutamente nada na vida, mas, parece sempre que anda a mil à hora. Desde ir buscar os filhos ao colégio, passar pela Zara para ver as novidades, dar um salto à mercearia gourmet, ir ao cabeleireiro e preparara-se para um qualquer evento social, as aulas de Body Balance são um mal necessário já que é socialmente desejável que uma mulher tão ocupada consiga ter um momento só seu. A Busy Wife é um bocado limitada porque passa os seus dias entre o ginásio onde raramente se fala sobre alguma coisa, as bisbilhotices de cabeleireiro, as discussões sobre a Casa dos Segredos com as amigas, as birras infantis dos rebentos mimados e, as suas leituras vagueiam entre as revistas cor-de-rosa. Desde que descobriu as “Cinquenta Sombras de Grey” que está a tomar coragem para fazer um upsize na sua vida de casada.

No final de contas a ida à aula de Body Balance revelou-se bastante inspiradora e fiquei realmente cansada. Tenho consciência que não fiz metade dos exercícios prescritos pela instrutora contorcionista e policorpórea, mas, conheci gente interessante e melhorei da minha hérnia. Objectivo cumprido, mas, continuo a preferir a dureza rude das aulas onde se transpira como se não houvesse amanhã. Por mais difícil que seja fazer exercício parada no mesmo sítio, sou uma mulher que precisa de dinâmica em cima de uns Nike, em vez de aspirar ao fantástico reino Zen e ao equilíbrio perneta . Mas, digo-vos que gostei de conhecer as Boazonas descomprometidas, as encantadoras Gajas exibicionistas , os Quarentões adolescentes em crise de meia-idade e as Esposas Ocupadas que apostam ser a E.L. James a próxima candidata ao Nobel, se houvesse um Nobel da Paz Casamenteira.




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