Friday, July 13, 2012

INSPIRAÇÃO: ONDE AS MINHAS NÁDEGAS SE ENCONTRAM COM 'O SACRIFICIO' DE ANDREI TARKOVSKY


Quando era uma Teen deslumbrada pelas mulheres que apareciam nas revistas de moda estrangeiras (isto passa-se no tempo pré-Vogue Portuguesa e pré-Maxima que só aparecem um pouco mais tarde) e queria compensar o meu 1,68 que achava “Too shorty” com uma magreza a la pele, fazia dietas que nunca duravam mais de umas horas até que a minha avó aparecesse com os sonhos de abóbora, o arroz doce cremoso e a sopa de feijão com massa e nabiça regada com azeite dourado. Aí prometia a mim mesma que recomeçava a dieta no dia seguinte que normalmente acabava logo com o pequeno-almoço de torradas de pão alentejano com manteiga caseira e açúcar amarelo por cima e um grande copo de leite com toda a gordinha nata fabricada pela santa vaca. Obviamente, que a alimentação era a mais correcta possível mas nessa época, há quarenta anos atrás – ninguém falava em dieta mediterrânica – pouco se sabia de nutrição e seguia-se a tradição e o pouco dinheiro fazia com que se recorre-se só aos produtos da época e dos arredores das quintas vizinhas (não havia Continentes de hipers nem cartões de desconto mas toda a gente poupava mais). Sempre tive, portanto, o meu peso saudável de 55 kg que eu queria descer obsessivamente para 49 que me parecia um número mágico mais consentâneo com a estreante Kate Moss, mas, felizmente a minha força de vontade não tinha a força suficiente para fazer guerra a um bolo de mel caseiro ou às compotas de fruta sazonal da avó Maria Antónia.

Estava eu no meu primeiro ano da faculdade quando abriu o 1º McDonald’s em Portugal, mais propriamente no luxuoso e enorme (e novíssimo) Centro Comercial Amoreiras. Era o supra sumo do lifestyle urbano e (na altura) trendy ir, depois das aulas às sextas à noite, comer um hambúrguer ao McDonald’s e em seguida (se houvesse dinheiro) ir a uma sessão de cinema nas absolutamente modernas salas do novo Centro Comercial.


O luxo das pastiches americanas a contrastar com o velhinho e intelectual Cinema Quarteto, onde íamos a sessões contínuas de cinema á séria em que um mesmo plano de uma árvore levava cerca de 5 minutos a passar no ecrã e os filmes do Manoel de Oliveira pareciam o cúmulo da acção modernista. Mas, nessa altura bem que podia encharcar-me em comida de plástico megacalórica pois andava quilómetros a pé para poupando no passe ter mais dinheiro para ir os programas das sextas e à intelectualidade dos dias de semana passados à porta do Quarteto e das salas King.



Com o advento do fast food a regra d ’O que sabe bem faz bem’ deixou de ser uma evidência que conjugada com as horas progressivamente aumentadas a teclar e a ginasticar somente os músculos dos dedos e as articulações do pulso, fizeram aumentar os nódulos de celulite como crateras lunares enviadas via satélite. Se é certo que o peso se manteve nos 55 kg até hoje isso deve-se sobretudo à lotaria genética cuja sorte me tem favorecido, mas, as horas sentada ao computador e a falta de paciência para comer bem (melhor dizendo cozinhar slow food em lume brando), têm vindo progressivamente a espalmar-me o rabo e a tremer-me o antebraço ao mínimo esboço de adeus. Por isso tomei uma das decisões mais drásticas da minha vida urbana e sedentária – fui viver para uma pequena aldeia deliciosamente rodeada de quintinhas produtoras de todo o tipo de vegetais e fruta, arranjei um jardim que me faz sentir que o meu rabo não é só um apetrecho da Microsoft e para completar o drama inscrevi-me num ginásio low cost com aulas tipo bumbum Brasil e DIY – Abdominais de Aço inoxidável. Isso mais as subidas íngremes em plena Serra de Sintra agora minha vizinha de afortuno que me comprometi a escalar de bike aos fins-de-semana com amigos da natureza, e não tarda estou com o corpo da Demi Mais antes de ela se divorciar do seu Ashton Martin, perdão, Kutcher. Se vou ser mais feliz? Não vos sei dizer, mas, desconfio que o calção do biquíni vai deixar de sobrar para serem as nádegas a delinear a cueca e isso só pode ser bom. Quero em crer que esta nova vidinha vai também delinear o meu coração, faze-lo mais rosado e redondinho, apesar das nádegas terem certamente um efeito directo mais persuasor.

Agora vou ali e já venho ao Did It Yourself – Especial Glúteos e malhar ao som nostálgico do “What a Feeling” from Flashdance.

No fundo, no fundo na minha cabeça não passo daquela adolescente de dupla personalidade que tanto folheava emocionada a Vogue Paris em slow mood e fazia “descubra as diferenças” com as top models da altura, como se extasiava com os planos de ‘ O Sacrifico’ de Tarkovsky como supra-sumo da estética e intelectualidade esperta europeia. Possivelmente, esses dois mundos não estão tão distantes como um olhar supérfluo pode levar a crer. Pois, o monge d’ O Sacrifício acabava por fazer com a árvore seca aquilo que eu estou disposta a fazer com as minhas nádegas: passo a passo e balde após balde, o monge subia uma colina para regar uma árvore seca. Ele acreditava que seu acto era necessário e não duvidava do poder milagroso de sua fé em Deus. Até que certa manhã, a árvore explode de vida. Assim eu tenho fé que um dia as minhas nádegas (e não só) expludam de alegria por debaixo dos skinny jeans. Vai dar tudo ao mesmo na moral da história: nenhuma “rega” será infrutífera desde que feita com fé e perseverança. A ver vamos se vale o sacrífico!









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