Friday, July 20, 2012

INSPIRAÇÃO: LIFE IS NOT GRAY!


Cada vez mais me convenço que aquilo que as mulheres desejam não é assim tão diferente do que os homens querem e tudo se resume a problemas de comunicação: As mulheres porque não sabem utilizar a expressão “curto e grosso” para dizerem o que lhes vai dentro, e os homens porque julgam que as mulheres querem algo muito sofisticado, longe, portanto, do que eles desejam e nem abordam o assunto com medo de rejeição. E assim o mundo está cheio de gente mal satisfeita por culpa própria. Vem isto a propósito do livro que se arrisca a ser maior best-seller que o Harry Potter e o “Comer, Orar e Amar” juntos e uma séria ameaça ao ranking onde figuram livros como a Bíblia. Falo de “Fifty Shades of Grey” de E.L. James , publicado em Portugal com o titulo “ As Cinquenta Sombras de Grey” pela Lua de Papel.


Pode-se sempre argumentar que a escrita básica e simples e as 99% páginas dedicadas ao tema sexo em dose extra- picante cumprem a fórmula do sucesso fácil, mas, todos sabemos que existem milhões de livros que seguem igualmente esta fórmula e nunca chegam a ver a luz do sucesso mediático. O fenómeno deste livro que eleva o erotismo à categoria de reality show literário, é digno já de diversos artigos cientifico-sociológicos e não há critico literário, jornalista mais ou menos especializado ou site e blogue da moda que não falem do dito cujo. Portanto, é normal que o livro venda e venda cada vez mais porque há o tal efeito bola de neve.

O sucesso começou com as donas de casa americanas e inglesas que ao que parece estão a precisar de apimentar um pouco as suas vidas sensaboronas. Há até quem afirme que este livro que trata acerca de uma jovenzinha estudante virgem e tímida estreante nas lides do sado-masoquismo com um homem mais velho e podre de bom, lhes mudou as respectivas vidas. Seja. Também já ouvi dizer a algumas senhoras respeitáveis que a revista Maria lhes tinha mudado a vida, assim como muitas viram as suas vidas revolucionadas pelo também best-seller “O Segredo” que era livro de praia e comboio das mulheres à beira de um ataque de monotonia há umas estações atrás. No meu entender isso só acontece às pessoas que andam desesperadamente à procura de mudar de vida, pelo que o pretexto que faz com que isso aconteça não é relevante. Há mulheres tão desesperadas que entram numa casa de banho com papel higiénico colorido da Renova e acham que descobriram a pólvora nas suas vidas, chegando à conclusão que o papel vermelho é um sinal de alerta para uma mudança radical na marca das suas pílulas contraceptivas para melhorarem as respectivas vidas sexuais. Enfim...

Por outro lado, o pessoal adora ler criticas negativas e torpes que elevam o objecto criticado à categoria de lixo. Isso fornece logo às pessoas sérias e aos intelectuais ainda mais sérios um pretexto para lerem o “lixo” numa perspectiva de se manterem informados. Tudo pretextos para devorarem a trilogia do lixo sem mácula no curriculum. Depois não é de admirar que o “lixo” venda e seja elevado ao estatuto de um dos maiores sucessos editoriais dos últimos tempos. O que me admira é que pessoas que escrevem realmente sobre cócó (ainda que doce) e literatura fake tipo manual de instruções para totós e adoram fanaticamente os Carreiras da vida tipo pai Tony , filho Mickael e espiritos adjacentes como expoentes máximos da cultura pop(pra)pular, venham depois escrever nos respectivos sítios na internet o quanto estão escandalizados pela má escrita de E.L. James e de como o livro é tão básico e a história tão indecente e que as personagens não têm coerência nenhuma, etc. e tal. Pois, se a história fosse muito decente e profunda, as personagens imaculadas de coerência interna, e a linguagem tão complexa que faria corar o outro James (Joyce) quem é que o lia? E depois, se conhecerem um livro de sexo, sobre sexo e com sexo que seja decente, não me digam que eu não quero saber.

A cultura deve ser uma coisa democrática e para tal devem existir, simultaneamente, pérolas da literatura para os iluminados e livros levezinhos para o povo e as donas de casa do povo e para os que fazem cursos por correspondência. E como o povo é em muito maior número que os iluminados, é matemática básica que os tais livrinhos peso pluma da literatura vendam mais e cheguem com facilidade à categoria de best-sellers! Não há nenhum fenómeno extra-sensorial nisto, ou há?

Quanto a mim mim parece-me que o povo feminino está a precisar é de festa e os homens arrumadinhos deviam pensar nisto á séria porque pode bem ser um sinal do que as suas mulheres andam a precisar mais de pipocar do que de cinema, mais de pimenta africana do que de açúcar pilé, mais chicha vermelha do que de beijocas gourmet cozinhados no banho-maria do romantismo, mais de acção do que de filosofices sobre a complexidade do sexo feminino. É que isto não tem nada de complexo: está provado que as mulheres querem, será que os homens podem? Leiam o livro.

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