Friday, November 18, 2011

A CRÓNICA DAS SEXTAS: A RAPARIGA SOLTA QUE NÃO SE ENCAIXA ( Portuguese Version)


A vida só acontece realmente quando deixas o teu apartamento…


Porque tu encontraste um gajo que não se parece com o homem que tu está a tentar esquecer. Decidiste dar um passeio na cidade antiga e foste a uma Bistro (ou a um desses lugares cool da moda) para comer macarons de pistáchio mas quando chegaste lá só os macarons rosa eram frescos e tu disseste “Está ok!” e a vida decorreu como de costume. Era óbvio que tu continuarias sozinha toda a noite porque é um dogma cultural que raparigas como tu não arranjam amigos coloridos em Bistros, esse tipo de coisas só acontece no “Sexo e a Cidade” , e não na vida real. No teu actual diário de vida tu voltarias sozinha para o teu apartamento se…

Tu não tivesses encontrado o gajo que não se parece com o homem que estás a tentar esquecer. Depois de devorares meia dúzia de macarons cor-se-rosa, olhaste através da janela e tudo se parecia com esses cenários das comédias românticas em que as ruas húmidas reflectem os candeeiros amarelados e uma música doce vem não se sabe donde. Claro que não se consegue ver as estrelas mas quem é que se importa com isso quando estás na cidade que nunca dorme, mesmo que sejas tu que sofres de insónia? No final de contas tens uma boa vida de adulta, tens um (não fantástico mas ok) emprego, alguns (não fantásticos mas ok) amigos, e um (não fantástico mas ok) apartamento. Caso para dizer que conseguiste uma (não fantástica mas ok) vida que deixam os teus pais orgulhosos. Só o teu ex-namorado é que não estava preparado para assumir esse tipo de compromisso e por instantes convenceste-te que ninguém poderia consertar o teu sonho desfeito se…

Tu não tivesses encontrado o gajo que não se parece com o homem que tentas esquecer. Disseste em voz alta “Foda-se” o que é por si só um mito urbano porque raparigas como tu não dizem “Foda-se” alto e a bom som, a não ser que sejam uma personagem d’ “O Sexo e a Cidade” o que é por demasiado óbvio que tu não és. Não há nada de dignificante no uso de expressões tão duras para traduzires os teus pensamentos mas ser incapaz de aceitar a realidade é realmente fodido. Tu ainda está à espera que os rapazes ajam como homens quando os próprios homens não conseguem entender o que é que queres dizer com isso, o que é realmente tramado. Nesta altura da história chegaste à brilhante conclusão de que isto não é sequer boa literatura e que continuares com a sua leitura é realmente uma perda de tempo, só que grande parte da tua vidinha “ok” é toda ela uma perda de tempo preenchida por comédias leves, séries de TV açucaradas  e, pior, reality shows sórdidos onde se revelam segredos de camionistas e aspirantes a manicures… Se…

Não tivesses encontrado o gajo que não se parece em nada com o homem que estás a tentar esquecer. Então tu encontraste o tal, sentado na paragem de autocarro em frente à bistro dos macarons. Disseste boa-noite e ele sorriu com uns dentes fantásticos e uma covinha no fim do sorriso. Depois, começaste uma espécie de conversa fiada sem outro propósito que salvar a sanidade da tua sombria mente porque o autocarro estava a atrasar o encontro contigo mesma na insónia do teu apartamento.


Sim, a vida adulta tem destes vazios que te fazem meter conversa com estranhos numa paragem de autocarro ( é quando descobres que chegaste à tal idade sem retorno). Não há nada de errado ( e isso é outro mito urbano) em falar com estranhos, desde que tenhas mais de 18 anos, não consumas drogas nem álcool. Falar com um estranho nem sempre tem de ser mau porque até o homem dos teus sonhos começou  por ser um anónimo desconhecido. Alguns estranhos são melancólicos, outros são realmente engraçados, e outros são uma cavalgada a solo para uma crise existencial. O gajo na paragem de autocarro, em circunstâncias normais seria muito estranho mesmo: o seu nariz fino, o seu perfeito low profile e a sua barba de 3 dias a contrastar com o excelente corte de cabelo. Era alto e elegante mesmo com ténis e calças largas. Ninguém espera um individuo bem parecido, engraçado e absolutamente adorável à meia-noite numa paragem de autocarro, pelo que devia ser considerado um crime de rua não retirar vantagem de semelhante situação, com uma punição grave para quem não levasse o desgraçado para casa. Nem sequer hesitaste por seres uma estrita cumpridora da lei urbana e convidaste-o para fazer parte da tua noite sem sono. Foste rejeitada tantas vezes que não encontraste nada para dizer quando ele te respondeu “Sim, claro em tua casa ou na minha?”    
Há coisas que simplesmente não consegues processar mesmo se essas coisas forem perfeitamente razoáveis. Uma das tuas grandes excentricidades é não conseguires confiar em homens que tratam bem as mulheres, sobretudo se esses homens têm excelente aspecto. O teu amor por indivíduos idênticos ao homem que estás a tentar esquecer não tem conexão nenhuma com a realidade. A tua reacção instintiva é acreditar que o género rebelde sem causa pode salvar-te da monotonia de ti própria. Mas, o que não sabes é que não existe ninguém que consiga fazer isso. Enquanto adolescente devoraste todos os livros de Miller, Hemingway, Bukowski… e apaixonaste-te por todos eles. Artistas viciados e escritores de canções que são maus para as mulheres e que as fazem sofrer com o seu amor não correspondido e desesperado. Estes são a tua espécie de heróis.  És uma mulher inteligente e até razoável excepto no que respeita a esta matéria. Apaixonas-te sempre por homens que se parecem com os artistas malditos que veneras, excepto que esses homens não são artistas, mas, inúteis e viciados cuja loucura, infelizmente, não resulta em imortais obras de arte.
O gajo que não se parece com o homem que estás a tentar esquecer não disse que eras demasiado vulnerável. Depois de se satisfazerem ele, imediatamente, soube que estava tudo acabado. O que és na cama não és tu, mas, uma mulher quebrável tentando ser alguém  que precisas de ser. Isto és tu não amando por esse homem não ser parecido com aquele que estás a tentar esquecer.
Jamais conseguirás tomar a grande decisão de ficar e amar alguém. Entras pela vida adentro amando modelos errados e sentindo auto-comiseração com a tua situação. Esta é a tua estranha dor, uma imagem borrão de uma mulher nua amarrada à cama, só que jamais houve um grande pintor ou um grande fotógrafo para imortalizar o teu corpo. A tua alma nunca foi deixada cair por uma paixão real como a chuva caí na minha inspiração. O problema não está em como os homens de tratam mas como é que te tratas a ti própria.   

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