Wednesday, March 5, 2014

INSPIRATION: MY GRANDMOTHER, CHANEL AND KARL





A minha avó Maria Antónia aprendeu a assinar o nome e a ler coisas simples já tinha mais de 70 anos, mas, tinha máximas de vida fantásticas que ela foi passando dos filhos aos netos e agora bisnetos, num verdadeiro testemunho de tradição oral. Algumas dessas máximas quando as ouvi era demasiado nova para apreciar a sua importância estratégica na vida de todos os dias, pelo que não as registei. Algumas delas ficaram, contudo, gravadas na minha memória recorrente e são verdadeira fonte de inspiração em muitas situações em que não sei bem como agir e me sinto mais insegura. Ontem quando via o desfile da Chanel que decorreu em Paris, num set que reproduzia um supermercado em que todos os produtos levaram a chancela glamorosa do duplo C, veio-me à memória o que dizia a minha avó Maria Antónia sempre que saimos de casa de chinelos e mal arranjadas ( nessa época os Birkenstocks ainda não se usavam como se fossem stilettos e o look acabado de sair da cama em mood sofisticado estava longe de ser cool): " Netas, e se ao virar da esquina encontrarem o homem da vossa vida, vão querer que a primeira imagem que ele tenha de vocês seja em chinelos e pijama ( não, nessa época Marc Jacobs ainda não tinha inventado o pijama chic)???"

 





Não sei o que é que a minha avó iria achar do Karl Lagerfeld, mas, assisti às lágrimas da minha avó um dia que uma amiga endinheirada da patroa dela lhe mostrou um casaquinho Chanel que o marido lhe trouxera de Paris. E a minha avó nem sabia quem era Coco Chanel nem podia intuir  o legado que ela iria deixar no fashion world, mas, ao apalpar a maciez do tecido, os acabamentos perfeitos e os detalhes fantásticos como botões e forro de seda, a minha avó  comoveu-se ao ponto de chorar. Só eu me apercebi da disfarçada emoção da avó Maria e recordo como se fosse hoje o que a minha avó me disse a seguir " Com um casaco daqueles qualquer mulher pode conquistar o mundo", tal era a consciência da minha avó acerca do poder da moda, o que era um feito absolutamente extraordinário, tendo em conta que a minha avó nunca conhecera mais do que roupa velha que lhe era dada pelas patroas ou coisas simples costuradas por ela própria ou pelas filhas. O primeiro vestido que ela teve em 1ª mão e de uma conceituada costureira foi o vestido que levou ao casamento de uma neta já ia nos seus 85 anos. Mas, enganem-se se pensam que a minha avó andava mal trajada, nada mais errado. A minha avó era mesmo das mulheres mais bem vestidas que eu conheci... até hoje. As coisas velhas nela tinham mesmo uma outra vida, a forma como ela as usava, as combinava, os arranjos poucos que lhes fazia... não sei explicar. Era uma autêntica stylist muito antes de se ter inventado o conceito, e fazia tudo por intuição e um grande senso de elegância. A minha avó era daquelas pessoas que quando ia ao supermercado trocava de roupa e nunca mas nunca ninguém a apanhou da porta de casa para fora de bata ou avental que eram o seu uniforme de trabalho.  



 
 
Nessa época o overdressed não era considerado um erro fatal de moda e as mulheres de classe alta ainda se vestiam para o jantar doméstico. A minha avó contactou toda a vida com essas mulheres refinadas pelo berço e não só aprendeu com elas, retitrando das suas experiências o máximo que podia, como chegou a ser conselheira de algumas, o que era um verdadeiro feito. O que Maria Antónia me dizia sempre " Neta, olha para tudo como se fosse a primeira vez que visses depois de teres estado meses com os olhos vendados... assim vais descobrir sempre algo novo nas coisas de todos os dias". De certa forma, foi o que fez Karl Lagerfeld na apresentação da coleção da Chanel para o próximo Inverno, pegou nas coisas mais vulgares á venda em qualquer hipermercado e fez com que as olhassemos de uma forma glamorosa.. nem que fossem tapetes de entrada ou luvas de borracha ou gomas em forma de pulseira, pregando-lhe o emblema mitico do duplo C. Esta é também uma visão bastante irónica sobre o consumismo atual.
 
 

 
 
 
Em conclusão, veste-te de Chanel dos pés à cabeça nem que seja para uma ida ao supermercado, não tenhas receio do overdressed porque lá dizia a avó Maria, " Mais vale ser a mulher mais bem vestida da sala do que a mais andrajosa, seres falada por excesso do que por defeito" por isso veste-te sempre o melhor possível para a ocasião, e põe sempre batom nem que seja para atenderes a porta... não poderás saber se é o principe encantado ou a bruxa má, mas, seja quem for procura sempre impressiona-los.
 
 

 
 
Tenho a impressão de que o Lagerfeld ia adorar a minha avó!
 
 


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