Monday, May 13, 2013

INSPIRATION: DID YOU LEAVE THE OBVIOUS FOR A MOMENT... TODAY?





Todas as pessoas deviam ser treinadas desde cedo a fazerem pelo menos uma pergunta todos os dias.. As pessoas deviam ter aulas de desenho mesmo quando crescesssem para aprenderem a colocar a paisagem de cabeça para baixo. Os adultos  vivem a maior parte do tempo agarrados a "cliquês" * e deixam de fazer perguntas porque têm medo que os outros os julguem ignorantes.

Na minha opinião sempre que alguém faz uma pergunta o mundo avança aos pulos como no jogo da macaca. Mas os adultos não gostam de perguntas sem resposta e por isso tiveram que inventar as religiões e demais pensamentos mágicos que lhe tragam todas as respostas que eles depois decoram como as crianças fazem com a tabuada. Só que um mundo igual a uma tabuada seria um mundo muito triste porque os sentimentos deixariam de existir.

Postos isto cheguei a uma conclusão, é mesmo muito dificil ser-se adulto, ter todas as respostas na ponta da lingua e nunca duvidar de nada. Mas, acho que ser criança é muito pior porque ainda não sabemos bem a ordem das coisas e até pode acontecer que desenhemos a boca no lugar dos  olhos e inventarmos que o céu é roxo e não há maneira de sabermos que aquilo está errado. Crescer é ver o céu sempre azul e achar que está errado pinta-lo de roxo, amarelo, verde, preto... Porque é que o azul há-de ser a cor mais certa para representar o céu?

Uma criança é considerada inteligente quanto mais se aproximar do mundo dos adultos e parecer crescida. Eu não concordo nada com isso. Uma criança inteligente nunca cresce e vai perguntar sempre mesmo sobre os assuntos que os adultos deixaram de perguntar há muito tempo porque acham que já têm a resposta certa.

Tenho 9 anos e sou a melhor aluna da minha classe, mas, também gosto de fazer cambalhotas e espreitar o mundo de pernas para o ar. A minha avó diz que eu tenho sempre a cabeça na Lua, o que eu não posso concordar porque se assim fosse não lhe podia dar beijos na face, ou terá que admitir que também ela tem a cabeça tão lá em cima quanto a minha. Sei que o que ela quer dizer é que gosto de vaguear por aí pelo abstracto, como diz a minha professora. Um dia quando eu for velha para aí com uns 40 anos ou mais e ler este texto gostaria de ter a certeza de que nunca parei de fazer perguntas, de desenhar o céu roxo às bolinhas vermelhas e achar que o sol pode estar no centro da terra. Gostaria muito de ser um adulto que faz o mundo avançar só com perguntas e não achar que tenho as respostas todas como a minha mãe e ficar quietinha porque já sei tudo sobre o que interessa.

O que eu não gostava mesmo nada de ser era um politico que mandasse nos outros porque esses senhores nunca fazem perguntas e dão muitas vezes as respostas erradas de propósito para enganar as pessoas.      

Um dia quando crescer e tiver filhos é possível que não me venha a dar muito bem com eles porque não vou ser uma pessoa adulta como a minha mãe e o meu pai. A minha vocação é fazer perguntas e por isso vou ser uma perguntadeira de profissão. É possível que tenha que vir a trabalhar no espaço porque no planeta Terra as pessoas perguntadeiras não são lá muito bem vistas. Também não vou ensinar os meus filhos que o mundo é uma tabuada triste só com uma resposta certa. Por isso é provável que não venha a ser uma mãe muito boa. Eu não gosto de respostas porque sempre que alguém me dá uma resposta certa eu deixo de pensar. Mas, os adultos não podem passar a vida a pensar porque senão não ganham dinheiro para cuidar dos filhos. E esse é que vai ser o meu problema porque eu gosto é de pensar e perguntar e voltar a pensar e a perguntar. Talvez um dia inventem um sitio lá longe depois da Lua onde seja mesmo preciso pensar e perguntar e então eu irei para lá e serei uma boa mãe porque as pessoas serão sempre crianças.

Quando perguntei á minha professora como é que se chamava a profissão em que as pessoas estavam sempre a perguntar disse-me que era ou jornalista ou policia detective. Desconfio mesmo que ela não entendeu aquilo que eu queria perguntar.

Paula Alexandre

*clichés?

( Redação descoberta num caderno meu sobre o tema "O que é que queres ser quando fores grande?" e que fazia parte do rascunho do exame da 4ª classe em Junho de 1975 )

    

1 comment:

  1. Sempre pensei nisso... quando me dão respostas certas, deixo de pensar, e é uma péssima sensação... :S

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