Sunday, March 24, 2013

WAINTING FOR SPRING...




























Não sou nostálgica nem tristonha por natureza, mas,  o tempo cinzento afecta-me e põe-me de mau humor, sobretudo quando o calendário nos diz que é tempo de sol e temperaturas amenas. Mas, regra geral a minha disposição não é uma questão tão filosófica ou metafisica que mereça um discurso sobre a matéria que é mais não-matéria. Sai de casa e embrenhei-me na aldeia do Penedo, situada no interior da Serra de Sintra. A ideia era passear o Tché, o labrador preto de 6 meses, mas, desta vez levei o passeio muito a sério e perdi-me no emaranhado de casas baixas, ruelas a subirem até ao céu, cães bravios por detrás de muros altissimos a adensarem o mistério do que se passará lá dentro, Provavelmente, nada, é tão-só essa estúpida mania dos portugueses de erguerem muros e por cima dos muros grades com bicos de ferro espetados, não sei se por medo de serem assaltados, se por insegurança de serem vistos no recato, essa palavra tão portuguesa que rima com hipócrisia e boas familias.O português endinheirado tipico gosta de ver ameaças em tudo e todos, passeia-se em carros de alta cilindrada e vidros fumados e mora encerrado em quintas com mansões vedadas por muros e grades como se vivesse paredes meias com favelas sul-americanas. Deve ser engraçada a realidade esfumada vista dos seus mundos de dentes cerrados, onde a liberdade se parece mais com um mito urbano que o excesso de dinheiro faz ainda mais duvidar que exista.




A aldeia é mesmo pacata e o excesso de recato parece aqui mais descabido que os marialvas devotos com as mães velhinhas pelo braço a cheirarem a nobiliárquica naftalina. Mais do que dos sítios com história, gosto dos lugares que me inspiram histórias, tragédias, comédias e demais episódios amorosos, como a Rua da Brasileira que desemboca numa residência senhorial com largas janelas de sacada e que nada me convence que ali não viveu uma "Brasileira",  fogosa amante de um nobre que ali tivesse quinta de familia e que motivado por uma paixão recatada se impôs pôr casa à senhora que depois deu nome à rua. Gosto destas conjecturas queirosianas que põem a nu as fraquezas dos homens que se deixam enganar facilmente quando o argumento é absolutamente carnal. O divertido é que as diferenças de séculos se desfazem quando observo os múrmurios sinistros por detrás dos portões de ferro com tabuletas desmotivadoras de violações de propriedade privada " Não nos responsabilizamos por quaisquer danos causados pelos portões eléctricos" bem mais ameaçador que um simples "Cuidado com o cão" dos portões pebleus.         




Sofro por vezes o infortúnio dos optimistas - a falta de instinto desconfiado e a esperança de que haja lugares onde a boa disposição não pague imposto psicológico. Gosto da minha aldeia adoptiva porque, apesar dos muros, as pessoas comuns dizem bom dia e parecem não precisar de uma "boa ocasião" para sorrirem. Os de má consciencia que se encerrem e que se consumam nesse medo dos afectos em desordem e se recriem na inquietação de não terem a alma limpa. Para nós optimistas, haverá sempre essoutra vida onde as crianças brincam na rua e se sujam de terra, os cães são meigos e os velhos têm um olhar de maresia e sem queixume.

     


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