Wednesday, March 20, 2013

MANIFESTO ANTI-QUEIXUME


Somos portugueses, somos absolutamente fantásticos sem esforço, temos a coragem no ADN, engraçados por definição e temos um dos padrões mais cool do planeta: as andorinhas pretas sob a parede caiada que a Miuccia Prada inverteu na coleção da Miu Miu primavera 2010. Pena é que só nós é que não sabemos isso! Deixem lá de se queixar malta e vamos aproveitar o que temos e quem somos.

No filme "Bestas do Sul Selvagem" aquela comunidade esquecida mas desafiante a viver numa zona pantanosa separada do mundo por um extenso dique a que chamavam "Banheira", até a pequena Hushpuppy, de seis anos, sabia que os bravos não choram e só os mariquinhas é que se queixam e abandonam o barco... 

Se bem que para muitos portugueses o país vive uma irreversível catástrofe de proporções épicas semelhante à tempestade que inundou a casa de Hushpuppy e destruiu o mundo à sua volta, todos sabemos que a alma portuguesa tem tendência para a tragédia, apesar de também sermos muito bons na comédia de costumes e de termos essa única virtude de nos sabermos rir de nós próprios.

Não querendo desvalorizar o verdadeiro drama que muitos portugueses vivem, em especial os jovens sem perspectivas que são obrigados a sair porta fora, um coisa vos garanto, nós somos bons e temos coisas fantásticas e não são só as andorinhas e os 'bordalos pinheiros', nem só o fado,  treinadores e jogadores de futebol. O que nós NÃO temos e isso desde sempre, é amor próprio e a auto-estima sempre andou mais escondida que uma toupeira velha.

Hoje, após ter assumido funções ligadas à cultura, e lidar todos os dias seja com o movimento associativo seja com a industria cultural ( a razão porque não tenho vindo aqui escrever mais vezes), fiquei com a certeza de que nós somos capazes de fazer coisas absolutamente espantosas sem dinheiro ( ou quase), somos generosos a ponto de fazermos espetáculos de grande qualidade e gratuitos, vejo jovens cheios de talento a trabalhar com a comunidade a troco de meros apoios pontuais ( ou nem isso) onde o único recurso que têm é a persistência e força de vontade para encenar espetáculos que fazem inveja a muitos consagrados no circuito internacional... vejo gente no movimento associativo a levar projetos interessantissimos para a frente com empenho e competência, sacrificando horas e horas de vida pessoal e familiar e a trabalhar sem pedir nada a não ser respeito e reconhecimento.

Deixem lá de se queixar, malta... pois aqueles que mais se queixam são os que por vezes menos razões têm para se queixar. Os que estão a trabalhar no duro e felizes com o que fazem não têm tempo para lamúrias. Defendo que as pessoas não devem calar a voz neste tempo incerto, mas, que devem faze-lo nos sitios adequados e a seguir ir trabalhar. Não é passarem o tempo todo a dizer mal de tudo e todos, com tromba de queixinhas e a acharem que a crise lhes dá direito a serem mal educados e a esquecerem as regras básicas de civismo ou a pensarem que o sorriso e a boa disposição estão suspensos por decreto.

Pois é verdade que estou farta, como dizia o Raul Solnado numa rábula no programa Zip Zip dos anos 70, mas, não é dos portugueses nem de Portugal que estou farta. Estou farta da auto-comiseração do clube dos coitadinhos, desses "No,we can't" que todos os dias podem comer bifes e ir de férias. Desses é que estou farta porque dos outros, daqueles que olham para o céu azul e pintam as nuvens à medida da sua imaginação e até podem comer feijão com arroz todos os dias, mas, têm um enorme smile gravado no olhar e a bondade nas mãos abertas, esses eu venero e desejo ser como eles quando for crescida!

Vamos lá malta, nós somos bons, só que com séculos de existência ainda não o sabemos e precisamos sempre que os outros nos digam e reconheçam, para logo em seguida nos voltarmos a esquecer. O nosso problema não é só a falta de dinheiro, o défice, o sistema financeiro, os bancos, a troika, os alemães... e demais males do capitalismo financeiro. O bicho papão é o nosso mal, esse que come a nossa auto-estima ao pequeno almoço e que arrota arrogância e depois se lamuria com o fado do "vamos andando!".

E se calhar é a nossa sorte, essa mania bem portuguesa de conjugarmos o gerúndio na ação porque enquanto "vamos caindo" temos tempo para desenrascar uma maneira de "irmos evitando" a queda. enquanto isso não era mal pensado irmos sorrindo e carregarmos o gerúndio às costas enquanto de facto trabalhamos.

Somos os nossos próprios inimigos, mais ferozes que os animais pré-históricos - as bestas do sul - que Hushpuppy enfrentou para defender a sua tribo. Mas, somos também um povo que enfrenta as revoluções com flores e a resistência politica se faz com cantautores e atos poéticos. Somos todas as contradições e seus antónimos. Mas, se deixássemos a sociologia do queixume de lado,  se calhar tinhamos tempo para olhar o céu e seguirmos as andorinhas com um gesto poético até à saída do túnel e abrindo os olhos, provavelmente, viamos a luz, por mais cegos que os politicos nos queiram.

Então, malta, se um dia tivemos um "Boi Ascensional" vamos pegar a crise de caras, finta-la como o C. Ronaldo, ter a auto-estima do Mourinho, desenrascar uma maneira de convencer a Troika de que somos assim tão bons e até melhores, e que nunca foram os governos que resolveram os nossos problemas. Infelizmente, no que toca a escolha de quem nos governa, somos como aquelas mulheres que escolhem, recorrentemente, os bandidos para casar porque gostam dos bad guys e os bonzinhos as aborrecem de morte, nesse hálito masoquista de sermos menores e gostarmos de levar no bico.

           
Vamos lá malta, o que faz falta é... não só mantermos "A banheira" à tona mas defendermos o ser português, sem pieguices nem lamurias e se for preciso levamos a banheira rumo a novos mundos como antes fizemos. Deixem lá de se queixar e vamos trabalhar, inçar as velas e partir, não da pátria mas deste conceito comezinho de sermos pequeninos capazes de às vezes fazer coisas em grande.  
  




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