Friday, September 9, 2011

THE BEGINNING OF "ON FRIDAY'S CHRONICS"

Por sugestão da minha amiga Rosemary (Colorida Art Gallery) vou hoje iniciar uma nova rubrica no Fashion Heroines, com o “virtual” objectivo de divulgar os meus talentos como escritora (ainda nas palavras de Rose). Aos poucos mortais que têm a paciência de ler as coisas que vou escrevinhando aqui e ali, dedico esta espécie de crónicas das sextas-feiras, para relaxar e preparar a entrada em grande nas 48 horas de laréu que se adivinham, isto para quem tem fins-de-semana, é claro! Para os que o não têm espero que as minhas estórias sejam um shot de energia para enfrentar o trabalho.

Gervásio é uma espécie de alter-ego, um heterónimo meio pessoano, mas, muito mais terráqueo e esperto. Gervásio apareceu nas minhas histórias pela necessidade de evitar falar na primeira pessoa que pode ser uma verdadeira chatice, por um lado, e pelo outro, permite-me “inventar” experiências sem passar por mentirosa. O Gervásio é ficção e ponto final, ou virgula, se quiserem, pois, muitas das coisas que acontecem ao Gervásio acontecem-me a mim ou a amigos meus, mas, sempre com muito mais piada, porque tudo depende da perspectiva com que se vêem e interpretam os factos. Sempre admirei as pessoas que conseguem ver a garrafa meio cheia quando a bebida lhes interessa e meio vazia quando detestam o liquido que contém. O Gervásio é este tipo de pessoas que consegue tirar partido de uma ida à loja do cidadão e consegue não tremer de medo com uma carta das Finanças. Gervásio é a pessoa que eu por vezes gostaria de ser na prática, embora na teoria goste muito da forma como sou.

At suggestion of my friend Rosemary (Colorida Art Gallery) I'm launching today a new Fashion Heroine's item, with the "virtual" aim to promote my talent as a writer (although in the words of Rose). To the few mortals who have the patience to read things that I'm scribbling here and there, I dedicate this kind of "On Fridays' Chronics" to relax and prepare for entry into a dolce far niente's mood within the next 48 hours, and for those that have no break weekends I've the hope that my shortstories will be a shot of energy to tackle the job.


Gervasio is a sort of alter ego, pretty like Fernando Pessoa's heteronomous, but much more earthbound and smart. Gervásio appeared in my stories by the need to avoid speaking in first person who can be a real bummer on the one hand, and on the other, allows me to "invent" experiences without going through lying. The Gervasio is fiction, period, but with real vibes too because many of the things that happen to Gervasio also occured to me ot to a friend of mine, but in a much more fun way, because everything depends on the perspective that Gervásio sees the world and how he plays the ordinary facts, and with him the ordinary sometimes becomes extraordinary. I always admired people who can see the glass half full when they are interested in the drink and half empty when they  hate what it contains. Gervásio is such that people who can take advantage of a trip to a finance bureau or something pretty red-tape like that. Gervasio is the person I'd like to be in practice, although in theory I like the way I am.

Parte I
Gervásio resolveu escrever um postal, desses antigos com uma fotografia-tipo-postal de um lado e sítio para escrever o endereço e colocar o selo do outro. Recordam-se desses quadradinhos que depois de escritos com frases amorosas enviávamos para o namorado e família quando viajávamos ou para assinalar uma data importante da vida dos outros? Ainda se lembram de quando chegávamos a um qualquer lugar desconhecido e corríamos logo a procurar um local onde se vendessem postais e selos para dizermos aos que amávamos que tínhamos chegado bem ao nosso destino? Pois, Gervásio não era saudosista mas aquela situação estava mesmo a pedir um postal antigo e com o respectivo selo. Ao Gervásio fazia-lhe um bocado de impressão que as caixas de correio passassem a servir unicamente para as más notícias: Contas, missivas de bancos e publicidade e/ou lixo gratuito, sendo os carteiros hoje uma espécie de cobradores que ninguém deseja ter à porta. Um email não pode ser manchado com batom nem com lágrimas, nem pode ser embebido em água de colónia. E isso, para Gervásio, era o fim de uma civilização de sentimentais para quem o amor era para comer e guardar no bolso ou na covinha entre os seios e não uma coisa asséptica e esterilizada por um ecrã intocável. Por isso Gervásio decidiu enviar um cartão postal. Mas, para isso tinha que ir aos correios… e procurou a agência mais próxima. Mas, quando lá chegou não só não existia como tinha dado lugar a um restaurante de luxo, possivelmente graças ao valor arquitectónico do edifício e à sua excelente localização central. Não estando habituado a desistir à primeira dificuldade, Gervásio procurou informação sobre a agência mais próxima e depois de muito andar, lá encontrou, na praça do município da cidade, um pequeno contentor vermelho supostamente a substituir aqueloutra onde era agora o restaurante xpto e a acompanhar a filosofia do contentor uma fila de espera na rua. Aguentou a fila sob um sol escaldante com o postal na mão já escrito e cada vez mais enrodilhado pelo suor. Mas, os postais eram para isso mesmo, para serem amarrotados e manchados… e sofrerem as agruras físicas a que o amor ele próprio também está submetido. Mais de 30 minutos depois Gervásio conseguiu ser atendido por um funcionário naturalmente mal-disposto dentro do contentor, ou melhor, chamuscado pelos quase 50 graus que se faziam sentir lá dentro. Que ali não vendiam selos. Sim que eram correios mas não tinham selos. Que o cliente tinha que se dirigir à estação de correios mais próxima onde existiria uma máquina automática de vender selos. Que os selos já não se vendiam ao balcão. Mas, que o Gervásio podia optar por enviar o postal sem precisar de selo, e despacha-lo com um carimbo de correio azul. Mas, Gervásio queria um selo e não queria pressas de correio do dia seguinte. Aquele era para ser um postal lento à moda antiga que devia seguir os seus trâmites devagar e levar três ou quatro dias a chegar ao seu destino. O funcionário encolheu os ombros e voltou a repetir com enfado, abanando-se com os impressos na vã tentativa de baixar um ou dois graus àquele calor infernal dentro do contentor, que selos só na máquina de venda de selos e impressos da agência principal a uns quilómetros dali. Gervásio deu-se quase por vencido e optou renitente por enviar o postal sem selo e com o tal carimbo sem graça nenhuma, mas, o funcionário que mais parecia queijo fundido, impacientemente, informou o Gervásio que para enviar o postal sem selo necessitava de um envelope para colocar lá dentro o postal e que os envelopes também só se vendiam na máquina dos selos e impressos lá na outra agência. Olhando para o Gervásio como se o seu último desejo fosse fulmina-lo e transforma-lo num delicioso frango de churrasco,ainda acrescentou: Olhe lá porque é que não envia um email? Facilitava a vida a todos!
Gervásio, nem quis saber e furioso começou a subir a ladeira íngreme até ao local onde se situava a agência principal com a máquina automática de selos e impressos. Chegado à tal agência dos correios começou a saga do Gervásio em frente à máquina automática de venda de selos e impressos. Viu logo que não tinha moedas e para começar a máquina tinha um post-it escrito à mão: Esta máquina não dá trocos. Tentou trocar a nota de dez euros ao balcão mas o empregado que apesar do ar condicionado não lhe pareceu mais simpático que o outro do contentor churrasco, mandou-o tirar uma senha de serviço geral. Gervásio aguardou mais 25 minutos até que chegou a vez da sua senha e com a senha numa mão e a nota de dez euros na outra pediu com o melhor sorriso que foi capaz para o empregado de má catadura lhe trocar a nota que precisava de moedas para comprar selos na máquina. Aqui não trocamos dinheiro, terá que comprar qualquer coisa. Mas, eu só quero selos, defendeu-se Gervásio já sem convicção e a máquina não dá trocos. Compre qualquer coisa e por favor não atrase o serviço. Também não tem envelopes? Perguntou Gervásio mesmo sem nenhuma convicção. Não, envelopes só na máquina automática. Queira afastar-se por favor que tenho que chamar a senha seguinte. Olhe o que é que tem aí para vender por 6 ou 7 euros, pediu Gervásio já sem força para rebater os olhos de míope furioso do funcionário. Não temos nada dentro dessa quantia senhor. O livro mais barato custa 9 euros e temos conjuntos de canetas dos correios por 5 euros. Mas, se comprar o livro fico sem dinheiro para o selo. Problema seu senhor. Queira deixar passar a senha seguinte, por favor. E se levar as canetas dá-me cinco euros em moedas? Não tenho trocos senhor. Olhe porque é que não envia um email? Facilitava a vida a toda a gente!
Gervásio que detestava dar-se por vencido desceu a ladeira novamente e entrou no primeiro café que encontrou para comprar uma água fresca e trocar a nota de dez euros. Subiu de novo a ladeira e agora já munido das moedas enfrentou a máquina automática de venda de selos e impressos. Depois de mais de cinco minutos a seguir instruções apercebeu-se que a máquina só vendia unidades de 50 selos com cinquenta envelopes. Como ele só queria enviar um singelo postal… e ao digitar o pedido verificou depois que as moedas que disponha já não chegavam para adquirir o pacote todo que custava a módica quantia de 20€. Completamente desiludido e cansado dirigiu-se ao balcão das reclamações. Atendeu-o um funcionário de gravata e fato escuro e sorriso de orelha a orelha. Gervásio explicou a situação e que andava a manhã toda a tentar enviar um simples postal pelo correio sem conseguir porque não conseguia adquiri um selo. O funcionário solícito de gravata vermelha e com um sol sorridente na ponta, informou Gervásio de que as máquinas automáticas de venda de selos e impressos não vendiam selos e impressos às unidades que isso só acontecia nas máquinas de rua e que essas como estavam a dar imensos problemas de vandalização forma arrancadas. Pelo que de momento não era possível adquiri só um selo ou /e um só envelope. Com um enorme mesmo gigantesco pedido de desculpas sublinhado pelo amarelo fluorescente do sol sorridente da gravata, o funcionário desfeito em amabilidades disse ao Gervásio como se tivesse descoberto ali mesmo naquele exacto momento a forma de colocar ovos em pé: Olhe porque é que não envia um email. É que sabe, senhor Gervásio, facilitava a vida a todos!

PART I
Gervásio decided to write a postcard by the old way to do it. One of those old postcards with a great photo in one side and a place to write the adress and put the stamps on the other. Do you remember these postcards where we wrote loving phrases and sent them to our beloved family or friends each time we were far away from home, or to mark an important date in other's lives? Do you remember when we in our travels just ran to look for a place that sells postcards and stamps to those we loved knew that we had arrived safely at our destination?
Gervasio isn't a nostalgic person but that specific situation is really asking for a postcard by all old means. Gervasio don't agree at all that the mailboxes became the container of the bad news: Accounts, letters from banks and advertising as free trash.The before missed postmen today is a kind of debt collector that nobody wants to have at the door. An email cannot be stained with lipstick nor tears, neither can be soaked in cologne. To Gervasio the end of things like that symbolizes the end of a civilization for whom the sentimental love was to eat or to carry in a pocket or in the beautiful cleft between the female breasts; Love can't be an aseptic thing done by a sterile untouched screen. So Gervásio decided to send a postcard to say what he wants to say. But to do so he must go to a post office ... When he finally found the closest post office and he arrived there it didn't existed anymore, it had given way to a luxury restaurant, possibly thanks to the architectural value of the building and its excellent central location. But Gervásio is that kind of person that doesn't give up by the first difficulty. He found information about the nearest office and after much walking, he found it on  the city council's square. It was nothing but a small red container which was supposed to replace the other post office where the restaurant was now. It was a big queue waiting the turn to be attended on the street. Gervásio waited under a scorching sun with the postcard in his sweaty hand already written. But the postcards were for that very reason, to be crumpled and stained ... and suffer the physical hardships that love itself is also submitted. More than an half hour later Gervásio could be met by the naturally ill-disposed employee within the baking container under 50 degrees that were felt inside. The employee said that in that post office stamps are not sold. He also said that the customer had to go to the next post office where is an automatic machine to sell stamps and other post office staff. He also said that Gervásio could choose to send the postcard without stamp, and dispatches it as priority mail and for that no stamp are required. But, Gervásio wanted a stamp and did not want to rush his postcard. It should be send by the slow old-fashioned way, it should follow its own steps slowly and take three or four days to reach its destination. That's the fun to send a postcard, isn't it? The post office assistant shrugged and returned to repeat with boredom, fanning himself with the paper forms in the vain attempt to lower one or two degrees to that infernal heat inside the container, that stamps are only selling at the automatic machine in the next post office some miles away. Gervasio decided to give up from the old fashioned way of the stamps' world and he decided to send the postcard without stamps, but the post office assistant who looked like melted cheese, impatiently, informed Gervasio that to send the postcard without a stamp he needed an envelope to put inside the card and the envelopes are also sold only on the automatic machine with the stamps. Looking for Gervasio as if his last wish was burning the client in the contentor and turn him in a delicious BBQ chicken, the assistant said slowly : Look, why don't you send an email?  Make life easier for everyone, please!
Gervasio is not an angry person and he decided to calm down and start up the steep hill to the next post office where the automatic stamp machine was. when he arrived at the new post office, it began the saga of Gervasio in front of the automatic stamp machine. He saw immediately that he had to get coins and the machine had a sticky handwritten note: This machine does not give change. He tried to change the ten-euro note over the counter but the employee, who despite the air conditioning did not seem much nicer than the other in the barbecue container, sent him to take a general service's number. Gervasio waited another 25 minutes until it reached his turn and with the ten euro note in one hand and the smashed postcard in the other, asked with the best smile he could get after all this to exchange 10€ note because he, despairingly, needed coins to buy stamps at the automatic machine. Here we do not exchange money, clients must buy something to get coins. But I just want stamps, Gervasio had defended himself without conviction,  and he replied that the machine does not give change. Buy anything and please do not delay the service. Have you envelopes? Gervasio asked with even less conviction than the first time. No, envelopes are sold only in the stamp machine. Move away, please, I must call the following client. Look at me please, Gervasio asked with a sad inner voice, what do you have to sell which costs 6 or 7 euros, asked Gervasio trying to calm down the angry myopic eyes of the office employee. We have nothing that cost that amount. The cheaper book costs 9 euros and we have the mail sets of pens for 5 euros. But if I'll buy the book by 9€ I won't have coins to buy the stamps. That's your problem sir. Please pass the following client. What if I'll take the pens by 5, could you give me the change in coins? We haven't coins for change, sir. Look why don't you send an email? Make life easier for everyone!
 

 Gervasio who hated to be beaten up, down the hill and entered in the first coffee shop that he had found to buy a fresh water and replaced the ten euro for coins. He climbed the hill again and now armed with the right coins he faced the automatic stamp machine. After more than five minutes to follow instructions he finally realized that the machine only sold 50 units of envelopes and fifty stamps minimum.But he just wanted to send a simple postcard ...anyway he has no coins enough to get the whole package of fifty stamps and envelopes. He must have 20€ for that! This was ridiculous to spend 20€ to send a single postcard! Completely on the blue and really tired he went to the counter complaints at the post office. Gervasio was attempted by an employee with a red tie and a dark suit backlit by a smile from ear to ear. Gervasio explained the situation and that he walked all the morning trying to send a simple postcard in the mail without being able to because he couldn't buy a single stamp. The attentive post office manager in charge with his yellow sun smiling on the edge of his red tie, said that single stamps are only sold on the street's automatic machines but this street machines were giving huge problems of vandalism so they chose to take them away. At the moment it was not possible to buy just one stamp and / or a single envelope. Even with a huge giant SORRY underlined by his fluorescent yellow smiling in the bottom of his red tie, the post office manager in charge looked like if he had just discovered how to put eggs in standing and he said to Gervasio with the sweetest voice he could get : Hey, Sir, why don't you send an e-mail. You know, Mr. Gervasio, it probably makes life easier for everyone!

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