O Natal é uma quadra engraçada porquanto revela o que de melhor há nas pessoas. Pena é que seja quase tudo falso e dure para aí uns 15 dias.
Esta é a altura em que me caem em cima com o argumento de
que sou uma pessoa muito ruim (ou perturbada/traumatizada) porque nem sequer
gosto do Natal. E eu nem sequer disse que não gosto do Natal!
Só disse que é quase tudo falso… começando pelos pinheiros
de plástico dos chineses e acabando nos sorrisos em arruada em lábios multiplicadores
de Boas Festas.
Os chineses é que a sabem toda. Não têm Natal mas vendem-nos
o Natal todo.
Depois vêm os saudosistas.Dizem que na sua infância pobre e feliz é que era. As pessoas não ligavam às prendas (não interessa se era por não terem dinheiro e viverem na base da sobrevivência) mas à reunião da família em alegre uníssono a jogarem jogos de tabuleiro e a contar histórias de vida até à meia-noite em que saiam para irem à popular missa do galo de entrada gratuita.
Nesta época os avós viviam com a família e não em casas de acolhimento
nos subúrbios onde só são visitados precisamente no Natal. E esses sim animavam
a noite com as suas histórias.
Ainda nessa época o bacalhau era muito barato e as couves
eram todas biológicas.
Pessoas cínicas como eu não existiam ou não eram convidadas.
Pessoas que visitam o Facebook na noite de Natal também não.
Naquela época só se visitavam os tios velhinhos e os primos
solteirões que davam notas de 20 escudos aos mais novos.
Para além dos saudosistas há toda uma classe de pessoas que
mantêm as tradições. Mas, essas são todas ricas, vivem em condomínios fechados
e encomendam tudo fora, incluindo a decoração da mesa de Natal.
Os outros são os pobres e remediados. Esses ficam até às 20h
do dia 24 nos centros comerciais a esturrarem os últimos euros em prendas a
eito. Até que são expulsos dos hipermercados pelos empregados desejosos de se
irem embora e com razão.
Vão ao Pingo Doce comprar a sobremesa e sentem-se deslocados
na mesa da família. Esses são os recém-divorciados sem eira nem beira. Acolhidos
em família porque é Natal.
Depois há os putos das novas famílias cujo tempo é o mais
parecido com um puzzle de mil peças entre padrastos, progenitores, avós
maternos, paternos e adotivos, primos e demais parentes que só vêm no Natal. A
figura final do puzzle é uma grande e aborrecida bosta. Passam o tempo todo em
viagens de carro a jogar playstation. São os futuros autistas sociais e geração
Y.
Todos têm árvore de Natal em casa mas ninguém sabe o que é
verdadeiramente o Natal nem o que significa a árvore. Os mais simpáticos têm
também presépios e esses sabem algo sobre um menino que nasceu numa cabana com
vacas e bois à mistura, o que era uma grande porcaria. A parte boa é que possivelmente
o menino ficou imune às alergias.
E é claro que gosto do Natal. Alguém dúvida disso?
Lá por beber cerveja Guinesss, em vez de vinho, em companhia
dos quatro patas e do João que faz o bacalhau e as rabanadas enquanto eu vou
lavar o carro e comprar ossos aos cães… não quer dizer que não aprecie as
tradições.
Mas, só a parte da tradição que não é falsa e que não se
pode comprar nos chineses. Ok?
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ReplyDeleteAdorei o post!!! É precisamente esse aspecto "plástico" do Natal que eu detesto, essa obrigação de as pessoas estarem juntas em dia marcado, quando passam o ano inteiro desligadas umas das outras. Não tenho pachorra, sinceramente.
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