Tuesday, April 10, 2012

INSPIRATION: DIZEM POR AI ( THE SAYING GOES)!


Dizem por ai que a tristeza é o motor da vida e que se fossemos sempre felizes para sempre ficariamos estagnados e não conseguiamos evoluir. Ou seja, a tristeza é que promove a mudança, o desconforto é que nos faz sair da casca, a insatisfação é que nos guia para fora do quadrado... Até pode ser, mas, então porque é que todos sonhamos em ser felizes? Será a felicidade o maior mito urbano e dos arredores criado para nos torturar ad eternum?

Quando em busca da felicidade é muitas vezes em busca do tempo perdido, não admira que não a encontremos. Se situarmos o nosso bem estar na recuperação do passado ou, simplesmente, deixarmos a sua invenção para o futuro, não admira que seja tão dificil sermos realmente felizes. O único tempo que nos é oferecido para viver é o presente e nenhum outro. Com isto não quero dizer que a felicidade não tenha raízes no passado e não deva ser um investimento no futuro. Mas, quero chamar a atenção para o seguinte: enquanto preferirmos gastar centenas de euros nuns dispensiosos jeans pre-lavados e desgastados até adquirirem a aparência de que passaram por mil e uma histórias, em vez de esperarmos o tempo necessário para usar os nossos próprios jeans novos até que eles tenham a sua própria história e verdadeira e não essa forjada por quimicos e tecnicas, esses jeans velhinhos que nos acompanharam na longa viagem que é a nossa vida, já moldados ao nosso corpo e que nos apaixonam a ponto de os irmos buscar ao lixo uma e outra vez e outra vez de novo, então, não admira que só a tristeza nos faça mover e que a felicidade seja um mito inquestionável e quantas vezes inalcançável pela nossa permanete insatisfação. 

Queremos tudo para agora e o agora já não nos serve daqui a uns agoras à frente. Preferimos coisas descartáveis a coisas com história, preferimos pagar a dispendiosa técnica de forjar histórias instantaneas do que esperar o tempo necessário para que a história aconteça naturalmente. Desejamos a felicidade dos anúncios baseada em ter isto ou aquilo e depois dizemos que a tristeza é que nos inspira. Não admira, pois, não consigo realmente achar qualquer inspiração num anúncio a um refrigerante light onde jovens de sorrisos branqueados e corpos trabalhados no ginásio diário representa o ideal de bem-estar e felicidade. Nem nas musiquinhas fantásticas que se colam aos timpanos a anunciar telemóveis de ultima geração que ajudam a criar mais amigos virtuais e a conectarmo-nos com o vazio das redes sociais que fazem de nós autistas com milhares de amigos que nunca nos tocaram e  dos quais nós nunca ouvimos a voz, o riso ou o choro. 

Vivemos apavorados com a tristeza, a depressão e, sobretudo, a solidão, mas, temos receio dos nossos próprios sentimentos, de usar o coração, de sermos magoados, somos a geração desinfectada e higienizada que mais se refugia na virtude questionável do virtual, do que só existe na nossa cabeça e na nossa imaginação. Somos muitas vezes mais o ser imaginado do que o real, o avatar do que a pessoa desconhecida que há em nós. A nossa vida é como um par de jeans novinho mas envelhecido artificialmente, apesar, de nunca ter sido usado. Mais vale usar a vida e se se sujar é só lavar e está novo. E assim se faz a história da nossa vida ( e dos objectos que nos acompanham) e, certamente, a felicidade será o prémio e a tristeza fará parte do ciclo como a luz e a sombra, o dia e a noite, a vida e a morte...       

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