Tuesday, June 5, 2012

HELLO! I'M PORTUGUESE, AND YOU BASTARD?



Eu até gosto de futebol, o meu pai foi futebolista de um clube de cidade de interior com algum prestígio e as minhas melhores fotos de infância eram tiradas junto à equipa, nos treinos ou antes de jogos decisivos do campeonato nacional. Eu até gosto da selecção portuguesa porque de vez em quando acontecem aqueles rasgos de inspiração que nos tiram a todos da depressão nacional que nos atinge a (quase) todos tal pesada nuvem negra. No dia em que a selecção joga é sempre sol mesmo que chova, prepara-se o churrasco, compram-se as minis e convidam-se os amigos. As pessoas estão especialmente simpáticas e sorriem com mais facilidade, os vizinhos mesmo os mais antipáticos trocam olhares cúmplices na unidade da mesma bandeira à janela. Os nossos jogadores (e treinadores), ao contrário dos políticos portugueses, são, assim, capazes de nos inspirar e de nos fazer gostar, por breves instantes que sejam, das cores da bandeira e do galo de Barcelos, do fado e do Tony Carreira e de suportarmos com algum encanto genuíno e naïf o espírito de Zé Povinho a abraçar uma causa maior – a de sermos campeões em alguma coisa.

Por fugazes momentos a vitória dos craques passa a ser nossa vitória colectiva, nem que para isso nos tenhamos que esquecer que eles ganham num só jogo aquilo que levamos a nossa vida inteira de labuta para ganhar. Nem que para isso tenhamos que esquecer que temos que nos governar o mês inteiro com aquilo que os craques gastam numa t-shirt D&G. E sobretudo, nem que para isso nos tenhamos que esquecer que vivemos num país governado por corruptos, sonsos, lambe-botas e incapazes que nos puxaram para os abismos do abismo. Nem que para isso nos tenhamos que esquecer que vivemos subjugados por uma pandilha de tecnocratas que levam países inteiros à falência para garantir que os “Grandes Interesses” se continuem a auto-financiar como grandes glutões do Presto (lembram-se do anúncio ao detergente?) e a engordar até à obesidade, somente mórbida para todos os que os rodeiam.

É isso que o futebol tem de bom e, sobretudo, as selecções nacionais: conseguem unir as mais diferentes facções clubistas que na vida real se odeiam de morte, do Norte ao Sul do país, sob a égide de uma só bandeira e de uma só canção. Tenho pena que os políticos não consigam fazer o que Cristiano Ronaldo, Moutinho, Bruno Alves, Coentrão, Postiga, etcetc. são capazes por si só: de nos inspirar e unir em torno da sua genialidade numa só causa. Não seria bom que os partidos políticos existentes no país e que na vida real se odeiam de morte tanto como o Porto, o Sporting e o Benfica, e os seus líderes políticos conseguissem essa magia de unir os portugueses em torno da causa maior que é recuperar o país e dar-nos esperança de que podemos ser os melhores em alguma coisa? Todos trabalhando para o mesmo, numa espécie de selecção nacional de políticos e técnicos que conseguissem unir patrões, empresários, trabalhadores, reformados, jovens, desempregados, funcionários públicos, sindicatos… num jogo final decisivo a bem de Portugal e contra os interesses económicos e políticos instituídos? Uma selecção nacional dos nossos melhores líderes que nos fizesse acreditar que o resultado desse jogo poderia ser PORTUGAL 5 – SRA. MERKEL, FMI, TROIKA e BCE 0?

É claro que na maior parte do tempo temos que viver na vida real e nem o futebol consegue prolongar a ilusão de que somos grandes e capazes de feitos impossíveis por muito tempo. Mas, Portugal é um país de milagres (por amor da santa temos a Fátima e os pastorinhos só nossos!) e as pessoas acreditam no valor das promessas e sobretudo no valor de as cumprirem. Talvez seja por isso que temos os políticos que temos, uns trapaceiros, uma espécie de “endireitas” que prometem milagres através da banha da cobra Troiko-alemã como se fosse o remédio para todos os nossos males. Somos um povo que acredita mais no milagre das mezinhas do que em competência e sabedoria; Ainda que o doente morra da infecção tratada com açúcar pilé e chá de austeridade ao menos não morre encharcado em nocivos antibióticos que tanto mal fazem à saúde (assim como assim também não tinha dinheiro para os comprar!).


No entremeio, e por umas semanas, andamos todos fora da vida real, a vogar na magia da esperança inspirada pelos nossos craques de futebol. Pelo menos no futebol podemos vencer a Alemanha, dar uma coça na Holanda e quiçá por em sentido diante do nosso hino quem nos impingiu a cura que nos matará o país. Porque politica e economicamente o país pode estar moribundo mas morrerá saudável, com as contas em dia e com Cristiano Ronaldo a segurar a taça no Youtube. E nós por momentos que queremos eternos, mas, que serão mais fugazes que relâmpagos numa tempestade de verão, seremos Portugal e gritaremos em uníssono Eu Sou Portugal, unidos nesse milagre de sermos maiores que a voz de Amália e em maior número que os que vão ao piquenique do Continente. Se formos campeões da Europa por um qualquer milagre sempre podemos empenhar a taça, vender em hasta pública o 4º segredo de Fátima benzido pelo Paulo Bento, ou colocar no ebay a camisola da selecção portuguesa autografada pelos craques campeões. Que sejamos no futebol aquilo que não conseguimos ser na vida real: Portugueses a sentirem-se bem por o serem, optimistas milagreiros a gritar até que a voz nos doa EU SOU PORTUGAL, e tu oh invejoso?




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